Wednesday, December 27, 2017

Melodia Boemia

O Expresso Hogwarts
orgulhosamente apresenta




Capítulos


Prelúdio
Radio Gaga
Eu quero ser livre
Alguém para amar
Matem a rainha
Joguem o jogo
Sob Pressão
È um tipo de mágica
O show tem que continuar
Eu nasci para amar você
Os sete mares de Rhye
Persistir para cair
Nós vamos abalar vocês
Melodia Boêmia



Melodia Boêmia



Prelúdio




Tudo o que vou contar para vocês aconteceu comigo. Estou muito velha, já quase não me lembro de tudo... não, não devo começar assim, estaria mentindo, especialmente para mim, pois todos os detalhes daquela época estão gravados em minha mente. Por muito tempo eu tentei esquecer o que passamos, esconder todas as memórias da época, mas descobri que estava errada. É preciso que todos saibam quanto custou nossa liberdade para que possam lutar e preservá-la. Mas estou me adiantando, como sempre...

Muito bem, vamos começar por aquilo que veio muito antes de mim, mas que teve como conseqüência tudo em que participei. Há muitos anos o mundo que conhecemos era bem diferente. O céu era azulado, havia verde em abundância e aqueles que viviam nessa época moravam na superfície, diferente de nós, que vivemos por muito tempo nos subterrâneos, exatamente como ratos.

Nessa época, a humanidade era dividida em nações diferentes com governantes diferentes e ideais diferentes. E a música permeava a sociedade. Era um tempo relativamente feliz, e, comparado a nós, nunca houve povo mais livre. No entanto um desastre ocorreu. Não sei bem o que realmente aconteceu, mas os registros que sobreviveram contam que uma Grande Guerra explodiu, envolvendo de início povos, depois religiões, e, por fim, todas as nações do mundo estavam dentro de um combate sem volta. Essa época foi chamada por nós de Apocalipse.

Sacrifícios humanos, bombas de potência como sequer podemos imaginar, cobiça e ódio fermentados por muitos séculos; tudo isso se juntou num desastre cívico e ecológico. As sociedades da época, juntamente com muito de sua cultura e riqueza, desapareceram. Apenas aqueles abrigados da intensa radioatividade que atingiu o planeta depois de uma camada protetora da atmosfera ter sido varrida do mapa sobreviveram.

Uma pequena elite logo se formou, ditando as regras da nova sociedade que surgia. Todos os direitos individuais desapareceram, assim como as diferentes nações; todos ficaram sobre o controle de um Estado Universal.

Quando minha história, e também de meus amigos, começa, esses fatos já haviam ocorrido há quase dois séculos. E nada do que lhes contei era sabido da população governada por essa elite, que acreditava ser enviada dos deuses para 'proteger' o povo da desgraça que já havia caído sobre a humanidade antes.

O único problema deles é que eu sempre fui muito curiosa, até mesmo metida, diriam alguns. Eu disse que muito da cultura dos povos antigos tinha desaparecido. Bem, isso era verdade. Mas também era verdade que, escondida em diversos lugares pelos subterrâneos, essa cultura sobrevivia. E foi graças a isso que eu descobri, durante minhas explorações, uma estação de rádio. Tudo bem que quando a encontrei eu não sabia o que ela era, mas...

Da primeira vez que entrei lá, eu estava sozinha. Maravilhei-me com tudo o que vi, obviamente. Com alguma dificuldade, descobri como algumas das coisas que existiam ali funcionavam. E qual não foi minha surpresa ao ouvir de uma caixa (que mais tarde descobri tratar-se de um amplificador) uma bela melodia, como jamais havia ouvido. Sim, eu conhecia música, mas era a música que nosso governo permitia, uma espécie de tortura musical, muito artificial comparadas às belas notas que eu havia conseguido extrair.

Esse passou a ser meu segredo, mas, não agüentando guardá-lo, acabei por compartilhar minha descoberta com algumas pessoas, dentre as quais, minha avó. E foi ela, a que deveria ser dentre nós a mais conservadora, quem começou a revolução. "Uma revolução?", você perguntará. Sim, ou você esperava que sabendo daquele tesouro e descobrindo as verdades por trás do nosso "amado" governo ficaríamos quietos?
Mas ainda não me apresentei. Meu verdadeiro nome não importa, assim como os dos meus amigos, mas nossos pseudônimos sim. Muito prazer, caro leitor, de agora em diante conheça-me como Coruja. Hum, acho que isso merece uma breve explicação antes de engatarmos nossa história...

Música. Isso era o que ligava todos os membros da revolução. Mais tarde ela transformou-se numa revolução cultural e social completa, mas de início era apenas musical. Todos os membros de nosso grupo usavam como pseudônimos nomes de pássaros. As personagens principais dessa história eram, dentre nós, os mais "afinados": a bela e doce Rouxinol, e o hipocondríaco Sabiá. Nosso grupo, com suas transmissões piratas ficou conhecido como 'a rádio ga ga'. E nosso arquiinimigo era por nós carinhosamente chamado de Corvo. Minha avó, que ficou sendo uma espécie de "conselheira", era por nós chamada de Livre Gaivota. Apesar de ser a mais velha, era a mais empolgada, e quando pegava o microfone... não havia o que a fizesse largá-lo. Mas ela tinha um talento especial: tocava maravilhosamente bem.

Bem, estou falando demais. Vamos finalmente partir para a história. Eu me lembro como se fosse hoje; a mina escura, a fuligem e finalmente...

Ela prendeu os cabelos acastanhados num rabo de cavalo, conseguindo afinal tirar o cabelo do rosto suado e olhou para os óculos em sua mão. Quebrados... sua avó ia ter um ataque quando ela chegasse em casa daquele jeito. Mas o que podia fazer? Simplesmente não podia conter sua curiosidade.

Esgueirando por mais uma das infindáveis passagens parcialmente bloqueadas, a garota afinal saiu dos escombros da mina. E seus olhos brilharam de satisfação ao ver o que encontrara. Não importava que estivesse sujo e quente, aquela visão era o céu! Ela caminhou até a pequena estante, encontrando uma dezena de livros. Pondo-se na ponta dos pés, tirou o mais grosso dos volumes e seus olhos percorreram rapidamente as palavras espalhadas no papel.

A morena deu um leve muxoxo. Não era nenhuma história, era um livro técnico com diversas palavras que ela jamais havia ouvido. Mexeu em todos os livros. Apenas um deles a interessou. Tinha diversas figuras de sociedades antigas e a linguagem dele parecia fácil. Quando chegasse em casa iria investigá-lo, por isso, enfiou o livro na bolsa que trazia a tiracolo e começou a xeretar as outras coisas. Havia ali diversos equipamentos que jamais vira.

Depois de algum tempo, ela encontrou uma tomada, e conseguiu ligar alguns equipamentos. No momento em que fez isso, um som fê-la assustar-se. Mas logo ela estava encantada pela melodia suave que saía de algum ponto do emaranhado de fios que era aquele lugar. Mas um outro barulho veio alertá-la de que nem tudo estava certo. O relógio.

- Droga! Eu perdi a hora de novo, vovó vai me matar!

Desligando a tomada, a garota saiu correndo de seu mais novo esconderijo, voltando para casa em desabalada correria. Ela jamais poderia adivinhar que o que acabara da fazer iria mudar, e muito, a vida não apenas dela, mas de todos que a cercavam. Mas isso é história para outro capítulo...

**********


Melodia Boêmia



Rádio Ga Ga




Ele apertou a jaqueta junto ao corpo, sentindo um certo frio enquanto subia pelo corredor de pedra em ruínas. Provavelmente estava gripado. Não deveria ter saído da cama naquele dia... quando chegasse em casa teria que tomar um chá bem forte com o remédio azul e o amarelo, abafando-se sobre os cobertores em seguida para baixar a febre. Sim, porque, com certeza, ele estava com febre.

- Até que enfim você apareceu! Está atrasado, sabia?

Ele olhou para uma passagem na parede de pedra de onde uma garota de cabelos avermelhados com alguns cachinhos caindo sobre o rosto acabara de sair.

- Eu não tenho culpa, Beija-flor! Estou com febre, isso pode ser até uma pneumonia...

- Pneumonia?! - ela fez um muxoxo de desprezo - Semana passada foi conjuntivite, retrasada, pressão alta, um mês atrás...

- Tá, tá bom, eu já entendi que você não acredita em mim - ele suspirou, passando a mão pelo cabelo curto, enquanto sentia a vista escurecer - Valha-me, Beija-flor, eu tô ficando cego!

De repente, um facho de luz acendeu-se bem diante dos olhos dele. A garota estava segurando uma lanterna.

- Apagaram a luz das minas, seu Sabiá hipocondríaco! Agora vamos logo, você sabe perfeitamente bem que hoje é o grande dia e fica aí nessa pasmaceira...

Ela entrou encurvada na passagem e ele não teve remédio a não ser segui-la. Logo chegaram a uma ante-sala onde uma pequena lâmpada estava acesa. Uma senhora de cabelos branco-azulados abriu uma porta camuflada a um canto.

- Andem logo os dois! Só estamos esperando vocês.

- Não se preocupe, tia Gaivota, nada vai dar errado hoje! - a garota sorriu embevecida - Estou tão alegre que me sentiria capaz de passar o dia inteiro apenas sorrindo!

- Sinto muito, Beija-flor. - pela porta aberta pela Gaivota, o rosto de um rapaz apareceu - Nada de inutilidades hoje. Temos muito trabalho pela frente.

- Fica quieto, seu Pica-pau de meia tigela... - Beija-flor respondeu - Vá procurar cupins, vá.

- Credo, Beija-flor! Deixa de ser chata.

A garota mostrou a língua para ele, empurrando-o sem muita delicadeza para que pudesse passar. Sabiá, logo atrás dela, olhou a confusão que estava dentro da sala onde tinha entrado. Cabos confundiam-se por todos os cantos e um barulho chato e monótono preenchia o lugar.

Afastada num canto, com as mãos sobre os ouvidos, uma garota de óculos tentava ler, mas o rapaz que estava próximo a ela não estava querendo deixar. Sabiá aproximou-se dela, divertido.

- E então, Coruja, você encontrou?

Ela negou com a cabeça.

- Você acha que dá pra pesquisar alguma coisa com essa, essa... COISA do lado?

- Ei, eu não tenho culpa se você vai fazer as coisas de última hora.

- Oras... quer saber duma coisa? Minha paciência já chegou ao limite, seu Uirapuru convencido! - ela levantou-se de súbito, segurando com toda a força a orelha do rapaz.

- Ai, ai, ai...

- SILÊNCIO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! - todos imediatamente pararam quando a Gaivota segurou o microfone, decidida a acabar com aquele pandemônio. Ela suspirou aliviada, olhando para cada um dos rostinhos jovens e um tanto assustados que a cercavam - Acredito que vocês ainda não tenham percebido o quão importante é isso que estamos fazendo. O quão subversiva e revolucionária é essa situação que está para acabar de nascer nesse momento! Esse balaio em que estamos nos metendo não tem volta. Durante três meses nós trabalhamos incessantemente 'plantando' pontos por todos os subterrâneos, pesquisando, ensaiando... Quando hoje ligarmos esses difusores e nossa rádio começar a funcionar, seremos o inimigo número um do governo. Isso que estamos fazendo não é uma simples brincadeira! - ela guardou silêncio por alguns instantes - Vamos começar a nos preparar. Entramos no ar em quinze minutos.

Ela desligou o microfone, caminhando calmamente para uma sala separada daquelas por vidros. Pica-pau estava sentado junto à mesa de programação, fazendo as últimas correções. Ele pegou o microfone da sala onde os dois estavam.

- Sabiá, você fica com o microfone da esquerda junto com o Uirapuru. Eu já me junto a vocês. Coruja, seu microfone é o do centro. Boa sorte com seu discurso. Rouxinol, Beija-flor, microfone da direita. Vamos começar. - ele desligou a passagem de som e virou-se para Gaivota - A senhora já sabe os botões que precisa apertar?

Gaivota assentiu e ele saiu da cabine, juntando-se aos outros. Os primeiros acordes de uma música logo soaram e todos se aproximaram de seus microfones, exceto por Coruja, que parecia muito concentrada em conseguir respirar e segurar um papel que tremia em sua mão.


Radio I'd sit alone
And watch your light
My only friend
Through teenage nights
And everything
I had to know
I heard it on my radio


- A todos aqueles que estão nos ouvindo nesse momento, é com grande alegria que cumprimentamos. Hoje é um dia especial, não apenas para nós, como também para vocês. Eu estou aqui para convidá-los a participar de nossa alegre reunião musical. Não pensem que estou falando do "adorável" hino do nosso Estado. Quero convidá-los a ouvir música, música de verdade, música de tempos antigos, pedaços da nossa cultura que se apagou com o fim da Grande Guerra e o início de nosso isolamento nos subterrâneos. Hoje vozes humanas voltam a se levantar, cantando. Por isso, pedimos: cantem conosco. Que o encanto comece! A rádio Ga Ga acaba de ser inaugurada!

You gave them all
Those old time stars
Through wars of worlds
Invaded by Mars
You made em laugh
You made 'em cry
You made us feel
Like we could fly
Radio

So don't become
some background noise
A backdrop for
the girls and boys
Who just don't know
or just don't care
And just complain
when you're not there
You had your time
you had the power
You've yet to have
your finest hour
Radio

All we hear is Radio ga ga
Radio goo goo
Radio ga ga
All we hear is Radio ga ga
Radio blah blah
Radio what's new?
Radio someone still loves you

We watch the shows
we watch the stars
On videos
for hours and hours
We hardly need
to use our ears
How music
changes through the years

Let's hope you never
leave old friend
Like all good things
on you we depend
So stick around
cos we might miss you
When we grow tired
of all this visual
You had your time
you had the power
You've yet to have
your finest hour
Radio

All we hear is Radio ga ga
Radio goo goo
Radio ga ga
All we hear is Radio ga ga
Radio goo goo
Radio ga ga
All we hear is Radio ga ga
Radio blah blah
Radio what's new?
Someone still loves you

Radio ga ga
Radio ga ga
Radio ga ga
Radio

You had your time
you had the power
You've yet to have
your finest hour
Radio


**********


Melodia Boêmia



Eu quero ser livre




Love of my life, you've hurt me
You've broken my heart and now you leave me
Love of my life, can't you see?
Bring it back, bring it back, don't take it away from me
because you don't know what it means to me...


A voz rouca dela se destacava no silêncio do estúdio. Sorrindo, ela virou-se para a neta, que a observava com admiração. Coruja se parecia muito com o avô e com o pai...

Como sentia falta de ambos...

Love of my life don't leave
You've taken my love and now deserve me
Love of my life, can't you see?
Bring it back, bring it back, don't take it away from me
because you don't know what it means to me...


Infelizmente eles a tinham deixado há muito tempo, assim como a nora... Coruja só tinha a ela... E talvez, não demorasse muito para que não tivesse ninguém...

You'll remember when this is blown over
, and everything's all by the way
When I grow older, I will be there at your side to remind you
how I still love you, I still love you...


Rouxinol sorriu para ela do outro microfone, enquanto as duas cantavam o dueto.

Please bring me back home to me, because
you don't know what it means to me

Love of my life,
love of my life..
. Uhhh... Yeah...


. - E por hoje encerramos a nossa programação. Amanhã voltamos com mais... Rádio Ga Ga!

Gaivota esperou Pica-pau, na "torre de comando" dar o sinal de que a gravação terminara. Quando o rapaz abriu a porta, todos eles começaram a comemorar.

- Valeu, vó! A senhora deu um show de radialista! - Coruja abraçou a avó com um sorriso de orelha a orelha.

- Obrigada, querida! Realmente, hoje foi excelente!

- E quando a Rouxinol soltou aquele agudo? - Uirapuru observou - Nossa, eu fiquei até arrepiado...

Sabiá sorriu para o rapaz. Engraçado pensar que seus companheiros eram todos mais jovens do que ele... Na verdade, eram todos crianças... os mais velhos, que deveriam ser responsáveis por aquela bagunça eram ele, Gaivota e Rouxinol... um breve arrepio percorreu sua espinha ao encarar o rosto sorridente de Rouxinol. Ela tinha uma voz tão linda...

- Ei! Você vai ficar sonhando aí? Está atrapalhando a saída!

Ele virou-se para trás, encontrando o rosto divertido de... Rouxinol. Ele ficou subitamente vermelho.

- Des-desculpe, e-eu...

A face dela mudou para algo próximo ao preocupado.

- Você está se sentindo bem, Sabiá?

- É, minha coluna tá doendo... - ele segurou firme o cotovelo.

Ela ia falar alguma coisa quando três pessoas apareceram.

- E desde quando sua coluna é no cotovelo, Sabiá? - Beija-flor estava tendo dificuldades para manter o rosto sério, enquanto Gaivota guardava alguns papéis numa pasta. Coruja, ao lado das duas, havia escondido o rosto dentro do livro que carregava, tentando esconder o riso, mas suas gargalhadas sufocadas pelo papel eram bem audíveis.

- Eu... - ele ficou sem palavras - É melhor eu ir, tenho trabalho hoje ainda. Com licença.

O homem saiu apressado, sem muita noção de para onde estava indo, acabando por tomar a direção contrária para a cidade, subindo ainda mais o túnel que escondia a entrada do estúdio. O que diabos havia acontecido? Ele ainda não tinha compreendido porque saíra sem responder àquela insolente, afinal, a garota era aluna dele, lhe devia mais respeito! E por que enrubescera quando Rouxinol se aproximara?

Finalmente, ele teve que parar. Seus olhos abriram-se com espanto enquanto ele olhava para o que acabara de descobrir. Seu olhar perdeu-se ao longe, seguindo a brisa marinha, enquanto ele observava maravilhado as ondas quebrando na praia de uma areia fina e dourada. Ele acabara de encontrar um mar subterrâneo!

Por alguns instantes ele permaneceu extático, mas um alarme soou e ele virou-se para o relógio em seu pulso.

- Droga! Eu tenho que ir para o trabalho!

Ele saiu correndo, voltando pela passagem que o levara até ali. Saiu tão apressado que sequer percebeu um vulto escondido entre as sombras. Depois de quase meia hora de corrida desenfreada, ele estava de volta à cidade, que era na verdade uma espécie de bunker onde cerca de quinhentas famílias viviam desde o fim da Grande Guerra. Mais alguns instantes e ele estava pronto para entrar na ala escolar da cidade e começar a dar mais uma de suas aulas de Literatura.

Enquanto explicava aos alunos aquilo que o Estado permitia ser ensinado, sua mente voltava para o tempo em que era um aluno, sentado exatamente numa daquelas carteiras. Suas perguntas sempre exasperavam o professor, que acabava sempre retrucando a ele dizendo: "Você vive num mundo perfeito! O que mais deseja?". Bem, ele sabia o que desejava. Liberdade.

- Dante escreveu no período do Renascimento a Divina Comédia, um grande poema que...

Tinha de segurar-se para não dizer o significado filosófico daquela obra. O Estado não podia correr riscos de seus cidadãos começarem a pensar...

- Shakespeare era um teatrólogo...

Faltava falar sobre as paixões arrebatadoras que o escritor despertara com seus livros. Faltava dizer tanta coisa... Mas não podia. Aquilo era uma idéia subversiva. E era muito irritante.

I want to break free
I want to break free
I want to break free from your lies
You're so self satisfied I don't need you
I've got to break free
God knows, God knows I want to break free.

I've fallen in love
I've fallen in love for the first time
And this time I know it's for real
I've fallen in love, yeah
God knows, God knows I've fallen in love.

Ele percorreu com os olhos sua "platéia". Bem na frente, duas garotas que ele conhecia muito bem estavam sentadas: Coruja e Beija-flor. Ele sorriu ao constatar que elas, no fundo, compartilhavam do seu sonho. Assim como todos os outros componentes da Rádio Ga Ga. E pelo visto, aquele era o desejo de muitas pessoas, afinal, a rádio estava realmente fazendo muito sucesso.

No intervalo entre uma aula e outra, seus pensamentos vagaram até a visão que tivera antes de sair correndo para dar suas aulas. Aquele mar... Ele quase podia sentir o cheiro de maresia, as ondas quebrando na praia, a brisa soprando suave, bagunçando cabelos negros e lisos, enquanto a água molhava os pés delicados...

Na praia, Rouxinol também fechou os olhos, sentindo uma estranha sensação de liberdade, enquanto que, de algum ponto daquela imensa caverna, grande o suficiente para abrigar um mar, uma luz difusa emergia. Ela sorriu enquanto começava a entoar mais uma canção.

It's strange but it's true
I can't get over the way you love me like you do
But I have to be sure
When I walk out that door
Oh how I want to be free, baby
Oh how I want to be free,
Oh how I want to break free.

But life still goes on
I can't get used to, living without, living without,
Living without you by my side
I don't want to live alone, hey
God knows, got to make it on my own
So baby can't you see
I've got to break free.

I've got to break free
I want to break free, yeah
I want, I want, I want, I want to break free.

**********


Melodia Boêmia



Alguém para amar




- Somebody (somebody)
Can anybody find me somebody to love?
(Anybody find me someone to love)
Got no feel I got no rhythm
I just keep losing my beat (you just keep losing and losing)
I'm OK I'm alright (he's alright)
I ain't gonna face no defeat
I just gotta get out of this prison cell
Some day I'm gonna be free Lord

Um breve interlúdio preencheu o silêncio da grave voz de Sabiá. A vez de Rouxinol havia chegado, e a voz dela encheu os ares da cidade através das bocas difusoras que os integrantes da Rádio Ga Ga haviam escondido por todos os cantos.

- Uma linda melodia deves ter, quando triste ou cansado. Se as dores forem lágrimas trazer, uma linda melodia deves ter. Canta a canção quando a noite chegar, quando em provação ou em aflição. Fácil é cantar quando brilha o sol. Deves tu cantar quando nuvens de chumbo o céu tingirem... Deves tu cantar quando a dor surgir. Quando as palavras falham, a música fala. - ela respirou fundo, antes de começar o dueto com Sabiá.

- Find me somebody to love find me somebody to love
Find me somebody to love find me somebody to love
Find me somebody to love find me somebody to love
Find me somebody to love find me somebody to love
Find me somebody to love find me somebody to love

Somebody somebody somebody somebody somebody
Find me somebody find me somebody to love
Can anybody find me somebody to love
Find me somebody to love
Find me somebody to love
Find me somebody to love
Find me find me find me
Find me somebody to love

Somebody to love
Find me somebody to love...

Na rádio, Pica-pau cortou o som dos microfones.

- Foi lindo, tia Rouxinol!

Coruja aproximou-se e Rouxinol olhou através das lentes dos óculos que a menina usava, mirando os olhos negros marejados dela.

- Obrigada, Coruja.

Rapidamente, o estúdio começou a esvaziar. Sabiá observou todos saírem e sentou-se no chão, observando o microfone em que, há poucos instantes, uma senhorita que andava tirando seu sono havia cantado.

A porta da cabine do estúdio abriu-se, deixando passar uma senhora de cabelos quase brancos e uma garota segurando um livro. As duas observaram o rapaz sem que ele percebesse a presença delas. Coruja sorriu divertida enquanto cochichava algo ao ouvido da avó. As duas aproximaram-se sorrateiramente de Sabiá.

- Olá, professor!

Sabiá olhou para a garota espantado.

- O que está fazendo aqui?

- Estávamos desligando os equipamentos - Gaivota havia tomado a palavra - E o senhor, o que faz?

O moreno deu um suspiro profundo.

- Eu?... Eu estava sonhando...

- Eu não disse que ele gostava da tia Rouxinol, vó?

Se Sabiá havia se espantado quando as duas "surgiram do nada", agora o pobre rapaz estava apavorado.

- O que disse?

- Você já ouviu o que minha neta disse, professor. Agora, responda: isso é verdade?

- Bem, eu... eu... eu...

A senhora sorriu docemente.

- Não precisa dizer mais nada. Eu já entendi.

Se o rapaz abrisse um pouco mais os olhos, eles saltariam das órbitas. Mas, de algum ponto do fundo de sua alma, ele tirou forças para voltar ao normal e balbuciar uma súplica.

- Vocês não vão contar para ela, não é? - ele perguntou num fiapo de voz.

- Claro que não! - Coruja sorriu tentando tranqüilizar seu professor de literatura - Você vai! E todo mundo da Rádio vai ajudar, não é, vovó?

- Claro! Agora escute: precisa aprender como conquistá-la.

Enquanto Sabiá começava a ouvir uma preleção sobre como conquistar a doce Rouxinol, seu "alvo" chegava à ala da "cidade" que pertencia a sua família. Quando Rouxinol entrou na sala, encontrou seu pai conversando com um rapaz um pouco mais velho que ela, de olhos negros sombrios.

- Até que enfim chegou, minha filha. Ande, quero apresentar-lhe um de nossos mais eminentes ministros, que em breve entrará em nossa família. Esse é seu futuro noivo, George.

A moça teve a impressão de que o chão havia sumido sob seus pés, mas forçou um sorriso, enquanto o tal George se aproximava.

- É um prazer conhecê-la, senhorita.

Rouxinol permaneceu na sala o mínimo de tempo possível, conseguindo retirar-se ao seu quarto depois de pretextar uma enxaqueca. Rapidamente ela trancou-se, deixando-se cair em sua cama enquanto tentava controlar os soluços.

A família de Rouxinol era uma das mais importantes no bunker transformado em cidade após a Grande Guerra. Seu pai havia sido por muito tempo um dos principais ministros que governavam o Estado. Aposentara-se quando a esposa morreu, ficando sempre com sua filha. E agora, para dar continuidade ao poder da família, ela ia ter que se casar com um dos figurões do Estado.

Em seus pensamentos, o tal George transformou-se num agourento corvo. E, embora não soubesse, ela acabara de conhecer o principal opositor da Rádio Ga Ga.

**********


Melodia Boêmia



Matem a Rainha




Por todos os cantos da cidade se murmurava a meia voz. Desde que as transmissões piratas da Rádio Ga ga começaram, algo mudou. Todos perceberam isso. Até mesmo a elite que controla tudo, que tentou em vão descobrir o local de onde as transmissões ocorriam, começou a se preocupar.

Nunca o órgão de controle do governo trabalhara tanto. George sentou-se diante de sua mesa, começando a mexer nos documentos que resultavam de suas últimas ordens. Ele leu e releu toda a papelada antes de jogá-la toda no lixo e levantar-se irritado.

Rapidamente ele saiu da sala, caminhando por diversos corredores antes de chegar ao seu destino final. Abrindo a porta defronte a qual parara, ele encontrou uma mulher de cerca de quarenta anos, de cabelos negros e fofos num estranho penteado que fazia o cabelo permanecer perfeitamente parado.

- Maria Antonieta.

A mulher ergue os olhos castanhos para ele e sorriu falsamente.

- Olá, George. O que faz em meu escritório?

Ele fechou a porta, sentando-se numa cadeira próxima a mesa sem pedir permissão. Por alguns instantes ele observou os papéis espalhados pela mesa. Antonieta levantou-se.

- Não está aqui para fazer uma visita de cortesia, não é?

- Quero que assine uma autorização para mim.

Ela ergueu a sobrancelha.

- Acho que procurou a pessoa errada, George. Quem manda aqui é...

- Há muito que sua irmã não governa nada. Não entendo como ainda não mandou matá-la. Afinal, só falta isso para que você assuma oficialmente as funções que mantém no Estado.

Ela levantou-se irritada.

- Cale-se, George, ou me esquecerei que é meu sobrinho!

- Certo, eu não lhe darei mais idéias, mas ainda quero minha autorização.

Maria Antonieta voltou a sentar-se, tentando esconder sua fúria.

- Para que servirá essa autorização?

George respirou fundo.

- Quero que me dê permissão para utilizar métodos mais persuasivos no caso da rádio clandestina.

- Prisões, interrogatórios, e, em último caso... tortura.

- Isso é loucura... - a mulher murmurou - Não posso fazer isso sem motivos.

George explodiu definitivamente, levantando-se.

- Mas temos motivos para isso. Há uma conspiração em andamento! Se não fizermos nada, em breve teremos uma revolta como jamais houve desde a Grande Guerra.

Antonieta riu.

- Ora, deixe de ser ridículo, George. Eles não estão fomentando nenhuma revolta. Só estão cantando. Eu sei que isso não é exatamente permitido, mas não é como se esses radialistas estivessem subvertendo a população. Agora me diga, e seu casamento? Já foi conhecer sua noiva?

O rapaz passou a mão pelos cabelos, voltando a se sentar.

- Pertence a uma das mais tradicionais famílias do Estado, é inteligente, bonita...

- Mas não me pareces muito feliz.

- Os conspiradores...

Ela soltou um suspiro resignado.

- Prove que estamos numa iminência de revolta e darei a autorização que precisa.

- Mas eu já investiguei, e pelos métodos normais não encontrei nada!

- Não terá a permissão até que prove alguma culpa por parte dos integrantes da rádio pirata.

Ele levantou-se, tentando manter-se calmo.

- Se não fizermos nada, essa história vai acabar bem mal, Maria Antonieta. Trarei o mais rápido possível as provas que deseja.

George saiu da sala rapidamente. Enquanto voltava para seu próprio gabinete, resmungando. Lá chegando, ouviu seu escritório invadido por uma suave melodia.

-
She keeps Möet et Chandon
in her pretty cabinet
'Let them eat cake' she says
Just like Marie Antoinette
A built-in remedy
for Khrushchev and Kennedy
And anytime an invitation
you can't decline

Caviar and cigarettes
well versed in etiquette
Extraordinarily nice

She's a killer queen
gunpowder gelatine
Dynamite with a laser beam
Guaranteed to blow your mind
Anytime.

Recommended at the price
Insatiable an appetite
wanna try?

To avoid complications
She never kept the same address
In conversation
she spoke just like a baroness
Met a man from China
went down to Geisha Minah
Then again incidentally
if you're that way inclined (she's a killer queen)

Perfume came naturally from Paris (naturally)
For cars she couldn't care less
Fastidious and precise


She's a killer queen
gunpowder gelatine
Dynamite with a laser beam
Guaranteed to blow your mind
Anytime

Drop of a hat she's as willing as
playful as a pussy cat
Then momentarily out of action
Temporarily out of gas
To absolutely drive you wild, wild...
She's all out to get you

She's a killer queen
gunpowder gelatine
Dynamite with a lazer beam
Guaranteed to blow your mind
Anytime

Recommended at the price
Insatiable an appetite wanna try?

Rilhando os dentes com ódio, George procurou alguma coisa com que pudesse tampar os ouvidos.

- Eu juro que vou descobrir quem são esses malditos "passarinhos". E vou me certificar que nenhum deles fuja a minha gaiola.

**********


Melodia Boêmia



Joguem o jogo




Ela tirou de trás da cabeça uma caneta, deixando os cabelos rubros caírem pelas suas costas. Antes que pudesse começar a resolver a questão de probabilidade, alguém derrubou uma pilha de livros sobre a mesa em que estava sentada.

- Olá, Beija-flor.

A ruiva sorriu para a recém-chegada.

- Olá, Coruja. - ela olhou para os livros que a amiga carregava - Vai fazer algum trabalho para a escola?

- Não, é só uma distração.

Beija-flor suspirou divertida enquanto duas pessoas muito conhecidas adentravam a sala da Biblioteca Estadual. Logo, Pica-pau e Uirapuru juntaram-se a dupla.

- Estudando? - perguntou Pica-pau.

A ruiva fez que sim com a cabeça, mas Coruja sorriu alegremente, enquanto abria o primeiro livro de sua pilha.

- Não; me divertindo.

Os três outros membros do grupo ficaram exasperados. Uirapuru, rápido, fechou com força o livro que Coruja abrira.

- Ei, o que pensa que está fazendo?

- Vamos ensinar você a se divertir! - falou Pica-pau, piscando o olho.

- Ah, não vão, não!

Mas antes que ela pudesse voltar ao sossego do seu livro, Pica-pau e Uirapuru já haviam segurado seus braços, levantando-a. Beija-flor também fechou seus livros, seguindo-os. Logo eles estavam saindo da biblioteca, caminhando por diversos corredores enquanto Coruja esperneava. O objetivo deles era chegar ao centro de jogos. Mas, quando passavam por um corredor mais afastado e escuro da cidade subterrânea, Pica-pau parou de repente.

- O que houve? - Coruja perguntou com sua curiosidade infantil, olhando para a face preocupada do rapaz.

Os quatro permaneceram em silêncio por algum tempo, até que conseguiram ouvir uma súplica abafada, vinda de uma das portas do corredor.

- Silêncio.

Pica-pau aproximou-se da porta, colando seu ouvido a ela. Uirapuru, Beija-flor e Coruja tentavam segurar até mesmo suas respirações, seguindo o pedido dele. Rapidamente ele levantou-se, tirando do bolso da jaqueta um estojo preto, revelando para os amigos uma chave de fenda. Depois de quase dez minutos de tentativa, ele conseguiu abrir a porta. Os quatro colocaram a cabeça para dentro do aposento, encontrando um vulto deitado no chão. Eles logo o reconheceram.

- Sabiá! - Pica-pau ajudou o amigo a se levantar.

- O que houve? - Coruja se ajoelhara junto a seu professor de literatura, observando os inúmeros cortes que apareciam sobre a pele dele.

- O Corvo... Ele está atrás de nós. Está torturando...

Sabiá desmaiou antes que pudesse falar mais alguma coisa. Beija-flor levantou-se, olhando para os três companheiros.

- Temos que levá-lo daqui antes que quem fez isso volte.

- Vamos levá-lo para minha casa. - Uirapuru falou, enquanto ajudava Pica-pau e Coruja a levantarem o corpo do amigo.

Eles levaram Sabiá para casa de Uirapuru, e depois Beija-flor e Pica-pau deixaram Coruja em casa. A morena entrou na sala sentindo-se imensamente cansada e triste. Logo uma senhora apareceu.

- O que aconteceu, minha pequena Coruja?

- Começaram a nos perseguir, vovó. Sabiá foi torturado. Nós o encontramos por acaso. E ele... ele está muito machucado.

A senhora sorriu carinhosamente para a neta.

- Nós já sabíamos que isso poderia acontecer, Coruja. Mas já que fizeram isso, talvez seja hora de aceitarmos o papel de revolucionários. E para isso eu gostaria que você escrevesse um pequeno discurso para começarmos nossas "atividades subversivas".

- Mas vovó, a senhora tem certeza? - os olhos castanhos da garota brilharam por trás das lentes dos óculos.

- Claro que sim. Está na hora de pôr um ponto final nos desmandos desse Corvo nojento. E da Urubu também, porque certamente, para ele ter feito isso, contou com a autorização dela.

- Amanhã então teremos nosso discurso revolucionário, vovó!

A garota entrou no próprio quarto radiante, e só voltou a sair no dia seguinte, quando a velha Gaivota chamou-a para a transmissão da tarde. As duas esgueiraram-se pelos corredores escuros até a área desmoronada da cidade, que levava aos túneis escuros onde, há quase um ano, Coruja descobrira as instalações da rádio. Mas tiveram alguns problemas, pois encontraram algumas patrulhas no caminho.

- Provavelmente estão procurando Sabiá.

A menina assentiu, esfregando as olheiras que haviam resultado de sua incessante noite de pesquisas. Quando afinal chegaram na rádio, a transmissão estava quase no final. Sabiá estava num canto, ainda um tanto roxo. O Uirapuru olhou para as duas, zombeteiro, mas ficou calado, já que o Pica-pau estava acabando a última música do dia.

Elas esperaram os acordes finais e Coruja adiantou-se para o microfone, recebendo um sinal positivo da avó. A voz dela logo se fez ouvir.

- Enquanto, lá em cima, o sol pender no céu e nos desertos houver areia; enquanto as ondas quebrarem no mar, conhecendo a terra; até que as montanhas desmoronem sobre nós... Sim, nós continuaremos tentando. Escutem todos vocês, povo. Venham para a luta, venham conosco jogar esse jogo. Sei que podem me ouvir, apenas me dêem um sinal. Eu não preciso de muito, apenas do desejo de vocês pela verdade. - ela mordeu os lábios antes de continuar, mantendo todos com a respiração suspensa para o que viria a seguir - Lá em cima está o futuro para os sonhos de vocês. Porque enquanto vivermos de acordo com raça, cor e credo; enquanto nos regulamos por cega demência e ganância, nossas vidas serão ditadas por tradições imbecis, superstições e falsas religiões. Por isso, através do tempo, sempre e sempre, estaremos tentando. E não se ressintam com nossa melodia. Ouçam, porque vocês podem ser o que quer que desejam. Sejam livres! Se há um Deus, se há um objetivo, se há uma razão para viver e morrer, se há uma resposta para as questões que nos prendem... Mostrem a vocês, destruam seus medos, libertem-se de suas máscaras. Porque nós estaremos tentando. E estaremos sorrindo. Seja onde for. Até o fim. Até que possamos, novamente, ter o céu sobre as nossas cabeças.

Juntamente com Uirapuru e Beija-flor, ela começou a cantar.

- While the sun hangs in the sky and the desert has sand
While the waves crash in the sea and meet the land
While there's a wind and the stars and the rainbow
Till the mountains crumble into the plain

Oh yes we'll keep on tryin'
Tread that fine line
Oh we'll keep on tryin yeah
Just passing our time

While we live according to race, colour or creed
While we rule by blind madness and pure greed
Our lives dictated by tradition, superstition, false religion
Through the eons, and on and on

Oh yes we'll keep on tryin'
We'll tread that fine line
Oh oh we'll keep on tryin'
Till the end of time
Till the end of time

Through the sorrow all through our splendour
Don't take offence at my innuendo
You can be anything you want to be
Just turn yourself into anything you think that you could ever be
Be free with your tempo be free be free
Surrender your ego be free be free to yourself

Oooh ooh
If there's a God or any kind of justice under the sky
If there's a point if there's a reason to live or die
If there's an answer to the questions we feel bound to ask
Show yourself - destroy our fears - release your mask

Oh yes we'll keep on trying
Hey tread that fine line
Yeah we'll keep on smiling yeah (yeah yeah)
And whatever will be will be
We'll keep on trying
We'll just keep on trying
Till the end of time
Till the end of time

Coruja afastou-se do microfone, sentindo a voz embargar-se. A velha Gaivota abraçou a neta com carinho.

- É, valeu à pena ter ficado com essas olheiras.

A garota sorriu antes de adormecer no colo da avó. A revolta contra o governo acabara de começar.

**********


Melodia Boêmia



Sob pressão




Sabiá encolheu-se um pouco mais na escuridão do estúdio. Desde que fora salvo, ele dormia lá, exceto pelo dia em que precisara ser medicado e Uirapuru o levara para sua casa. Faltavam ainda algumas horas para o começo da transmissão, por isso, ao ouvir o barulho de passos no túnel, ele se assustou. Teriam descoberto a rádio? Mas ele não falara nada!

As luzes começaram a se acender e ele escondeu-se atrás de uma caixa de som. Mas a pessoa que entrara na sala não pertencia a nenhuma milícia do Corvo. Ele levantou-se com dificuldade.

- O que está fazendo aqui, Rouxinol?

A loira assustou-se de início com a aparição do amigo, para em seguida responder a ele com um sorriso triste.

- Estou fugindo do meu "noivo".

Ela fez uma careta ao pronunciar a última palavra e não percebeu a expressão de pânico no rosto do companheiro.

- Você vai se casar?

Rouxinol sorriu novamente para ele, dessa vez divertida.

- Lógico que não! Estou no meio de um núcleo revolucionário buscando liberdade contra o governo. Para que eu acataria a ordem de casar-me com o detestável chefe do departamento de investigações?

- Você está noiva do Corvo?!

Ela assentiu com a cabeça, sentando-se ao lado dele, observando as feridas que começavam a cicatrizar.

- Foi ele quem fez isso em você... - ela passou os dedos de levinho por um dos cortes mais fundos no rosto dele. - Isso vai ficar marcado...

Sabiá soltou uma leve risada.

- Cicatriz em mulher não diz nada, mas em homem, é parte do currículo. - ele percebeu que ela estava sorrindo também, mas uma outra visão se sobrepôs ao rosto dela - Ele inspecionou pessoalmente a tortura. Acho que vou ter pesadelos com isso para o resto da vida.

- Mas por que te pegaram? Sabiam que você estava ligado à rádio? - ela agora o olhava com preocupação.

- Alguém delatou que eu andava ensinando "demais" aos meus alunos, e que eles andavam tendo "idéias subversivas".

- Mas isso é ridículo!

- Bem, o Corvo não achou. E ainda ligou essa história de idéias subversivas com a rádio. Mas ele não achava que eu era um dos integrantes, mas que mantinha contato com o pessoal. Ele queria que eu delatasse vocês. Se os meninos não tivessem chegado, provavelmente eu estaria morto na próxima sessão, porque pode ter certeza que eu não abriria a boca.

Por alguns instantes os dois ficaram em silêncio, apenas se olhando, enquanto Sabiá tentava tomar coragem para falar algo muito importante para a moça. Um barulho alto foi ouvido e Rouxinol imediatamente levantou-se. Sabiá segurou-se na caixa, levantando-se também, mas com dificuldade. Logo três rostos sorridentes apareceram no aposento: Beija-flor, Pica-pau e Uirapuru, discutindo sobre algum arranjo musical.

Os três imediatamente interromperam a conversa ao entrarem no estúdio e Pica-pau sorriu maliciosamente para os dois amigos, enquanto Sabiá começava a se avermelhar e Rouxinol olhava para a porta pela qual passaram os últimos membros da rádio: Gaivota guiando a neta, que como sempre mantinha-se mergulhada num livro.

Gaivota esperou todos se acomodarem em um círculo, enquanto ela se mantinha em pé.

- Acredito que, depois de ontem, eu não preciso mais lembrar a vocês a perseguição que estamos sofrendo. O Corvo arranjou a desculpa que precisava para acabar conosco. Mas precisamos seguir em frente. O povo precisa se conscientizar dos desmandos que o Estado tem feito. As cobranças de impostos, as prisões arbitrárias, a tortura, a completa extinção dos direitos individuais... Eles têm que saber. Por isso, agora, vamos cantar!

Todos assentiram, silenciosamente, tomando seus lugares. Beija-flor aproximou-se do microfone.

- Pressure pushing down on me
Pressing down on you no man ask for
Under pressure - that burns a building down
Splits a family in two
Puts people on streets
that's o.k.

It's the terror of knowing
What the world is about
Watching some good friends
Screaming 'Let me out'
Pray tomorrow - gets me higher
Pressure on people - people on streets
O.k.

Chippin' around
Kick my brains around the floor
These are the days it never rains but it pours

People on streets
People on streets

It's the terror of knowing
What this world is about
Watching some good friends
Screaming 'Let me out'
Pray tomorrow - gets me higher high high

Pressure on people - people on streets
Turned away from it all like a blind man
Sat on a fence but it don't work
Keep coming up with love
but it's so slashed and torn

Why - why - why ?
Love love love love love

Insanity laughs under pressure we're cracking
Can't we give ourselves one more chance
Why can't we give love that one more chance
Why can't we give love give love give love give love
give love give love give love give love give love
'Cause love's such an old fashioned word
And love dares you to care for
The people on the edge of the nigh
t And loves dares you to change our way of
Caring about ourselves
This is our last dance
This is our last dance
This is ourselves
Under pressure
Under pressure
Pressure

**********



Melodia Boêmia



É um tipo de mágica




Rouxinol encolheu-se um pouco mais na cama, suspirando. Seu pai falecera e no dia seguinte iriam oficializar o noivado dela com George. Ele não respeitara sequer seu luto... Finalmente, ela desistiu de dormir, e levantou-se resmungando, caminhando para sua penteadeira. Em meio a uma série de objetos, uma pequena caixinha dourada brilhava. Com cuidado ela deu corda à caixa e uma suave melodia começou a vibrar.

- I don't want my freedom
There's no reason for living with a broken heart
This is a tricky situation
I've only got myself to blame
It's just a simple fact of life
It can happen to any one

You win, you lose
It's a chance you have to take with love
Oh yeah I fell in love
But now you say it's over and I'm falling apart

Yeah yeah, it's a hard life
To be true lovers together
To love and live forever in each others hearts
It's a long hard fight
To learn to care for each other
To trust in one another right from the start
When you're in love

I try and mend the broken pieces
Ooh I try to fight back the tears
Ooh they say it's just a state of mind
But it happens to everyone

How it hurts (yeah) deep inside (oh yeah)
When your love has cut you down to size
Life is tough on your own
Now I'm waiting for something to fall from the skies I'm waiting for love

Yes it's a hard life
Two lovers together
To love and live forever in each others hearts
It's a long hard fight
To learn to care for each other
To trust in one another right from the start
When you're in love

Yes it's a hard life
In a world that's filled with sorrow
There are people searching for love in every way
It's a long hard fight
But I'll always live for tomorrow
I'll look back at myself and say I did it for love (ooh)
Yes I did it for love - for love - oh I did it for love

Por muito tempo ela observou a pequena caixa de música, até adormecer sentada. No dia seguinte, ela acordou sentindo-se toda quebrada, mas levantou-se rapidamente. Aquele dia decidiria seu futuro e ela só esperava escolher o caminho certo.

Enquanto isso, não muito longe dali, duas garotas folheavam livros e mais livros, até que a mais nova levantou-se de um salto.

- Encontrei! Eu finalmente encontrei!

- Calma, Coruja! - Beija-flor sibilou baixinho, segurando a amiga. - Vamos para a rádio logo!

As duas saíram da sala abafada onde tinham arrumado seu "escritório de estudo", não muito longe da parte dos túneis onde se localizavam as instalações da rádio pirata. Foi com um susto que Sabiá, Uirapuru e Pica-pau receberam as duas garotas. Beija-flor estreitou os olhos ao ver os dois amigos ali tão cedo, mas antes que pudesse perguntar algo, Coruja começou a contar o que tinha achado, cheia de excitação.

- Ei, ei, ei, Dona Coruja! Fala mais devagar que eu não estou entendendo nada. - o Uirapuru sorriu zombeteiro - Parece mais uma matraca...

A pele da garota mudou para uma coloração de vermelho intenso, quase roxo, e Uirapuru logo pôs as mãos sobre os ouvidos, esperando pela explosão que não demorou a acontecer.

- COMO VOCÊ SE ATREVE, SEU, SEU... PAVÃO!

- Ei, olha o respeito! Eu...

- Parem vocês dois! - Sabiá acabara-se de meter-se no meio - É mais importante discutirmos agora o que ela descobriu. Repita o que disse, Coruja.

- Eu descobri a saída dos subterrâneos. Descobri também mais dados sobre a Grande Guerra, sobre a História do nosso povo e...

- Como é que se sai?

A garota ficou nitidamente embaraçada nesse ponto.

- Eu ainda não sei explicar... tudo o que eu encontrei trata esse assunto como uma espécie de... mágica.

- Ah, não, Coruja... - Uirapuru começou novamente a atrapalhar - Vamos ter que enfrentar o Corvo, é capaz de encontrarmos um ambiente hostil e cheio de radioatividade lá em cima... e você diz que vamos resolver nossos problemas com magia! O que vamos fazer? Teletransporte?

Foi a vez de Beija-flor se irritar.

- Escuta, Uirapuru, eu sei que você gosta de brincar e tudo mais, só que dessa vez estamos tratando de algo sério! Pelo menos uma vez, fica calado. O que a Coruja e eu descobrimos é muito mais sério do que imaginávamos.

O rapaz abriu e fechou a boca, como se fosse retrucar, mas acabou por emburrar-se a um canto. Coruja sorriu agradecida à amiga antes de continuar, abrindo um livro para que os amigos pudessem ler, apontando para eles um parágrafo que ela grifara.

- É pela água que a humanidade deve ascender, voltando ao Paraíso terrestre usurpado por demônios de corpo humano. Pela magia do vento há de se abrir a passagem que levará os remanescentes à superfície, através de terra e mar.

- Isso é um enigma. - Pica-pau se manifestou pela primeira vez.

Coruja negou com a cabeça.

- Não é. Há alguns pontos ainda obscuros para mim, mas essa passagem do livro bate com uma lenda que certamente todos aqui já ouviram. - a garota suspirou - Os sete mares de Rhye.

**********

Melodia Boêmia



O show tem que continuar




Sabiá fechou os olhos ante aquela revelação. Sua mente voou até seus tempos de infância, quando por diversas vezes ele ouvira falar da Grande Guerra, do desastre nuclear que varrera uma camada atmosférica e da travessia pelos sete mares de Rhye, criador do Estado subterrâneo.

Rhye era um cientista. Dois meses antes da catástrofe nuclear que estourou treze bombas atômicas em diversos cantos do mundo, ele previu que isso ia acontecer. Rhye comunicou isso ao mundo, mas ninguém lhe deu crédito. Ele então transportou para um grande laboratório subterrâneo quinhentas famílias, entre amigos, funcionários e parentes.

Através de sete grandes lagos, mais de mil pessoas desceram até o laboratório, que era uma espécie de bunker, adaptando-o às suas necessidades e criando a cidade. Quando afinal, na superfície, as bombas explodiram, uma parte da cidade desmoronou, sendo afetada justamente a ala em que vivia o cientista e na qual ficava a passagem de saída dos subterrâneos. A comunicação com o mundo superior foi definitivamente cortada. A última informação conseguida através dos computadores e cálculos do cientista foi a de que não havia mais condições de haver vida na Terra. E assim foi por duzentos anos.

- Está errado, professor. - Coruja permanecia extremamente séria - Na verdade, estamos aqui em baixo há pelo menos seiscentos anos.

Exceto por Beija-flor, os amigos da garota olharam para a garota confusos.

- Você anda estudando demais, Coruja...

- É sério, Uirapuru! Estou falando baseada nos livros que encontrei aqui na rádio quando a descobri. Porque estamos na ala que pertencia a Rhye, se você ainda não percebeu. E há muitas outras salas nesses túneis, todos com coisas do tal cientista. Além disso, há computadores por aqui com potência suficiente para acessar os arquivos do Governo. E, acreditem, o que eu e Beija-flor achamos não é nada animador.

- O que exatamente vocês acharam? - Pica-pau estava anormalmente sério.

- Rhye sabia dos ataques nucleares porque ele era um dos colaboradores. - Coruja continuou a falar - Ele pertencia a uma seita de fanáticos que se auto denominava "Dragões do Céu". Eles acreditavam que eram enviados de Deus e que deviam extirpar do mundo o pecado, ou seja, a humanidade. No meio do caminho, no entanto, Rhye percebeu a burrice que estava fazendo, mas já era tarde demais. Aí ele fugiu, trouxe o pessoal para cá e etc. Essa parte da história vocês já conhecem. Daí partimos para o desmoronamento dessa ala da cidade. Bem, isso também foi obra dos Dragões, que também tinham vindo com Rhye. Eles decidiram acabar com qualquer vestígio da antiga humanidade, criando um novo povo, obediente e temerosos aos princípios em que eles acreditavam. Eles explodiram assim a saída para a superfície, e junto, o próprio cientista.

Coruja calou-se e deixou que a amiga continuasse a falar, tentando por tudo no mundo não passar mal.

- Passados cerca de trezentos anos do fim da guerra, uma revolta aconteceu. Muitas pessoas queriam que fosse estudada uma maneira de se voltar para a superfície. Os dragões não tiveram outra opção além de esmagar completamente a revolta. - Beija-flor mordeu os lábios antes de continuar - Eles promoveram um genocídio na cidade, acabando com todas as pessoas em idade suficiente para ter alguma consciência, ficando apenas com os dragões leais e centenas de crianças. Eles cuidaram dessas crianças, ensinando a elas apenas o que queriam que elas soubessem, inventando um monte de mentiras.

Sabiá deixou-se cair numa cadeira depois de ouvir tudo aquilo, prestando atenção na face de seus amigos.

- É gente... temos que encontrar logo uma saída daqui, ou estaremos bem encrencados.

- Nós já estamos. - Gaivota apareceu na porta do estúdio com uma grande mala - Corvo nos descobriu a todos. Não podemos mais voltar para casa.

Empty spaces - what are we living for
Abandoned places
I guess we know the score
On and on, does anybody know what we are looking for...
Another hero, another mindless crime
Behind the curtain, in the pantomime
Hold the line, does anybody want to take it anymorev The show must go on
The show must go on, yeah
Inside my heart is breaking
My make - up may be flaking
But my smile still stays on

Whatever happens, I'll leave it all to chance
Another heartache, another failed romance
On and on, does anybody know what we are living for ?
I guess I'm learning (I'm learning learning, learning)
I must be warmer now
I'll soon be turning (turning, turning turning)
Round the corner now
Outside the dawn is breaking
But inside in the dark I'm aching to be free
The show must go on
The show must go on, yeah, yeah
Ooh, inside my heart is breaking
My make - up may be flaking
But my smile still stays on

Yeah yeah, whoa wo oh oh

My soul is painted like the wings of butterflies
Fairytales of yesterday will grow but never die
I can fly - my friends
The show must go on (go on, go on, go on) yeah yeah
The show must go on (go on, go on, go on)
I'll face it with a grin
I'm never giving in
On - with the show

Ooh, I'll top the bill, I'll overkill
I have to find the will to carry on
On with the show
On with the show
The show - the show must go on
Go on, go on, go on, go on, go on

**********


Melodia Boêmia



Eu nasci para amar você




Sabiá não agüentava mais aquela imobilidade. Todo mundo na rádio estava trabalhando menos ele. Embora seus amigos dissessem que não havia trabalho, ele sabia que o estavam poupando, pois ainda estava bem machucado.

Silenciosamente, o rapaz saiu da rádio, começando a caminhar pelos túneis de granito negro, guiado por sua inseparável lanterna. Antes que fosse muito longe, ele ouviu um rumor de passos. Ele parou, esperando o barulhento ser. E Rouxinol apareceu diante dele.

- O que está fazendo aqui? É perigoso.

A garota sorriu ternamente.

- E o que o senhor fazia aqui, e, ainda por cima, sozinho?

Ele suspirou derrotado.

- Certo, você venceu.

Ele virou-se, voltando a andar.

- Ainda não respondeu minha pergunta. - a voz dela ecoou pela rocha.

O rapaz não se virou e continuou andando, afastando-se cada vez mais dela e da rádio. Sem entender porque estava fazendo aquilo, ela recomeçou a segui-lo. Algum tempo depois, o som de água encheu o túnel. Após uma última curva, os olhos deles depararam-se com uma grande imensidão de água.

Sabiá tirou os sapatos, fato imitado por Rouxinol, e os dois começaram a caminhar pela praia, deixando que as ondas quebrassem junto a seus pés. Ela parou por um instante, observando a luz difusa que enchia a caverna. Sua contemplação, no entanto, foi interrompida por um jato de água. Olhando para o lado, ela viu o sorriso zombeteiro de Sabiá.

- O que pensa que está fazendo? - ela fingiu uma cara zangada quando ele deu de ombros, sorrindo marotamente - É assim, é? Você vai ver só!

Os dois começaram a se molhar, e logo estavam completamente ensopados. Sabiá, cansado, sentou-se dentro d'água e Rouxinol juntou-se a ele. Os dois ficaram quietos, observando o mar, até que ele começou a cantar.

- I was born to love you
With every single beat of my heart

Yes, I was born to take care of you
Every single day...

Rouxinol levantou-se estendendo a mão para o rapaz, o sorriso mais perfeito que ele já a vira dar.

- I was born to love you
With every single beat of my heart
Yes, I was born to take care of you
Every single day of my life

Sabiá começou a guiar Rouxinol em uma valsa embalada apenas pelas vozes dos dois. Ela fechou os olhos, apoiando delicadamente a cabeça ao ombro dele. Ele recomeçou a cantar, dessa vez sussurrando junto ao ouvido dela.

- You are the one for me
I am the man for you
You were made for me
you're my ecstasy
If I was give every opportunity
I'd kill for your love

Rouxinol sorriu novamente, tomando a vez.

- So take a chance with me
Let me romance with you
I'm caught in a dream
And my dream's come true
It's so hard to believe
This is happening to me
An amazing feeling
Comin' through -

- I was born to love you
With every single beat of my heart
Yes, I was born to take care of you
Every single day of my life

I wanna love you
I love every little thing about you
I wanna love you, love you, love you
Born - to love you
Born - to love you
Yes I was born to love you
Born - to love you
Born - to love you
Every single day - of my life

Rouxinol parou de dançar e levantou a cabeça, fitando os olhos do rapaz, que calou-se com o movimento dela. Eles permaneceram nessa posição por alguns segundos até que ele percorreu a pequena distância que os separava, colando seus lábios aos dela.

De repente, ele afastou-se um pouco dela, olhando fixamente para um ponto, enquanto sua face tomava uma leve coloração rubra. Rouxinol o olhou preocupada.

- O que houve?

Ele apontou para a entrada da caverna, onde vários olhos brilhantes piscavam. Finalmente descoberto, o grupo caminhou até o novo casal. Gaivota foi a primeira a chegar, sorrindo.

- Desculpe, Sabiá, mas você dois sumiram de repente e estamos cheios de problemas, então, todo mundo saiu procurando por vocês. Não sabíamos o que ia acontecer.

Ele assentiu com a cabeça e seus olhos voltaram-se para os amigos. Pica-pau e Uirapuru sorriam para eles, marotamente. Beija-flor aproximou-se de rouxinol, enquanto Coruja entrava no mar até os joelhos, olhando pensativamente para o teto da caverna, feito de uma rocha cristalina que multiplicava a luz difusa que era irradiada em algum ponto no meio do cristal. Uirapuru voltou-se para Sabiá, após alguns momentos de contemplação.

- Há quanto tempo você conhece esse lugar?

- Acho que uns seis meses...

Coruja apareceu quase que magicamente na frente dele, com a face extremamente vermelha.

- Por que não nos contou?! Você sabia desse lugar o tempo todo e não falou nada! E eu tive que passar todo esse tempo pesquisando - ela abaixou a voz quase com se chorasse - Depois de tudo pelo que passamos, finalmente...

- Do que está falando, Coruja? - Sabiá estava visivelmente confuso.

- Acho que você está precisando urgentemente voltar do espaço, Sabiá. O que é isso que você vê? - ela apontou para o mar.

- Ora, é um... - os olhos dele se esbugalharam - Os sete mares de Rhye!

**********


Melodia Boêmia



Os sete mares de Rhye




Há meia hora que eles estavam ali, tentando descobrir como fazer para abrir a bendita passagem.

- Magia do vento... - bufou Uirapuru, deixando-se cair na areia - Eu ainda não aprendi a fazer mágica!

Gaivota sentou-se ao lado dele, logo seguida por Rouxinol, Sabiá e todo o restante do grupo, exceto, por Beija-flor e Coruja. Uma porque era muito curiosa e estava, nesse momento, cavoucando o chão atrás de conchinhas e a outra porque não estava nem um pouco cansada, mas muito ansiosa para chegar à superfície.

Coruja não se virou quando ouviu a ruiva começar a resmungar em voz alta. Do lugar onde estava podia ouvir perfeitamente bem.

- Por que tem que ser tão difícil?! Ô, doutor Rhye, por favor, dá uma ajudinha aqui! Eu quero ir para a superfície!

Um barulho alto encheu a caverna e o chão começou a tremer. Coruja caiu sentada dentro d'água e, diante dela, algo começou a se movimentar dentro do mar. Ela ouviu a voz da avó gritando, mas estava tão maravilhada com o que via que sequer se moveu.

Sabiá segurou o mão de Rouxinol, que estava tremendo ao seu lado.

- Não precisa ficar com medo, eu tenho certeza de que vai acabar tudo bem.

Ela olhou para ele confusa.

- Mas você tá gelado!

Ele deu de ombros.

- Mas dois medrosos juntos pelo menos se fazem companhia.

A moça teve vontade de responder alguma coisa, mas seus olhos foram atraídos para uma grande ponte que surgia acima da águas, exatamente aos pés de Coruja. Firmando a vista, ela divisou uma bolha multicolorida junto à amiga e percebeu que ela estendia a mão para a bolha. Ela ouviu um grito desesperado de Gaivota, dizendo que aquilo era perigoso, mas aquilo era perda de tempo. Não havia ali ninguém mais curioso que Coruja. No entanto, quando a garota tocou a "coisa", o tremor parou.

Coruja abriu a mão dentro da bolha, sentindo sob sua palma um pêlo sedoso. O brilho se desfez aos poucos e os olhos dela se fixaram nos olhos intensamente amarelados de um gato completamente negro.

- Quem me chamou?

Os olhos da garota se estreitaram, observando o gato.

- Você fala?

- O que você acha? Pareço estar miando para você?

Coruja ia responder quando Beija-flor aproximou-se.

- Quem é você?

- Ah, foi você quem me chamou. - ele reconhecera a voz da garota - Eu sou... bem, tecnicamente, eu sou as memória do cientista Rhye. Sou um robô.

- Então vai nos levar para a superfície? - Pica-pau acabara de aproximar-se.

- Peraí, você é Rhye? - Coruja perguntou, dominada por sua eterna curiosidade.

- Brilhante conclusão, garota. Merece um prêmio. Acho que vou adotar você como minha nova dona.

- Dá pra ser menos irônico? - ela perguntou, sentindo-se um tanto irritada.

O gato suspirou, pulando para o colo dela.

- Como eu já disse, tecnicamente eu sou Rhye. Tenho as memórias e a personalidade dele, mas não tenho o corpo humano. Meu criador morreu há muito. - ele virou-se para Beija-flor - E se vocês querem ir à superfície, vieram ao lugar certo. Vocês podem me contar sua história no caminho. Faz muito tempo que durmo.

- Gente, isso vai dar em confusão. Um gato no meio de uma revoada de passarinhos...

- Depois, Uirapuru. - Coruja levantou-se com o gato, afagando a orelha dele - Já que você me "adotou" como dona eu vou te dar um nome... que tal Nix?

- Significa noite, não?... Gostei! Pode me chamar de Nix de agora em diante. Mas agora sigam-me em direção à superfície!

Depois de quase três horas de arrodeios, histórias, brigas e apresentações, o grupo atravessou a última barreira que levava ao mundo superior. Gaivota foi a primeira a sair da caverna. E extasiou-se com o que viu.

O céu parecia uma aquarela, pintada em diversos tons, do vermelho intenso ao azul celeste, com uma grande bola de fogo, o sol, a se esconder por trás de altas escarpas cobertas de neve, que rodeavam o vale onde eles haviam saído. Sobre eles havia um ponto extremamente brilhante, uma estrela, a primeira que surgia com a noite. À frente deles, um lago de águas cristalinas com pequenas ilhas, preenchia todo o vale, caindo pelas frestas entre as escarpas, formando várias cachoeiras. Beija-flor enxugou uma lágrima, colocando em palavras tudo em que eles estavam pensando.

- Finalmente... chegamos à superfície...

**********


Melodia Boêmia



Persistir para cair




Enquanto os "passarinhos" da rádio Ga ga maravilhavam-se com a primeira noite na superfície, traçando planos e mais planos para a vinda de todo o povo à superfície, na cidade subterrânea um estranho movimento começava a ocorrer.

A irmã de Maria Antonieta, líder dos Dragões do Céu e comandante do Estado, havia falecido. Maria seria agora aclamada governadora. George só esperava que aquilo facilitasse seu trabalho com a rádio clandestina.

Ele estava no velório quando alguém cochichou algo ao seu ouvido. Maria Antonieta observou o semblante do sobrinho abrir-se, como se ele acabasse de ter ganhado um presente. Ele aproximou-se dela, pedindo que o ouvisse por alguns instantes. Ela assentiu, seguindo-o até uma sala próxima.

- O que aconteceu, George?

- Descobri onde fica a rádio.

Ela sentou-se cansada. Gostava da rádio, mas depois da declaração de rebeldia deles, não podia simplesmente fingir que nada havia acontecido.

- Você foi bem persistente, não? Gostaria de saber por que odeia tanto esses cantores...

- Porque eu sabia desde o início que eles tentariam derrubar a ordem que nossos antecedentes tanto sofreram para construir. Acima de tudo, Maria Antonieta, eu sou um Dragão do céu. E não vou deixar esses rebeldes conspurcarem nossa obra.

Ela suspirou.

- Convoque a milícia, George. Vá fazer seu trabalho e deixe-me velar minha irmã em paz.

Ele saiu da sala, arrumando rapidamente tudo de que precisava. Duas horas após o comunicado da descoberta de um de seus investigadores, ele ultrapassou a passagem que ligava a parte desmoronada da cidade aos túneis que haviam pertencido a Rhye.

Juntamente com a milícia, ele seguiu por vários corredores, avançando sempre para cima, pelo que ele podia notar. Depois de algum tempo, ele ouviu passos e, antes que pudesse se organizar, à frente dele surgiu um rapaz de estatura mediana e olhos acastanhados. O professorzinho. Os olhos de George notaram rapidamente que ele segurava a mão de uma bela garota de cabelos dourados e olhos azuis.

- Ora, ora, o que encontramos? O que faz aqui com minha noiva e seus "alunos", professor?

Nix, no colo de Coruja, sentiu o medo quase palpável da garota.

- O que está acontecendo? - o gato sussurrou baixinho.

- Aquele ali é o Corvo. - ela falou ainda mais baixo - Ele está com a milícia. E nós não temos nada com que nos defender.

O gato permaneceu em silêncio por alguns instantes, ouvindo George discutir com Gaivota e Sabiá, que mantinha Rouxinol atrás de si.

- Coruja, quando eu disser já, grite para que todos corram. Eu estou ligado ao computador central de Rhye, assim, posso fazer essa passagem desmoronar. - ao ver a face de pânico da garota ele acrescentou - E não se preocupe. Existem outras passagens para a superfície. Essa não é sequer a principal.

A garota fez um tímido aceno com a cabeça. Cinco minutos se passaram até que o túnel começou a tremer.

- CORRE, PESSOAL!!!

Rapidamente todos se voltaram para a passagem, correndo como loucos. O Corvo, que não havia entendido o que estava acontecendo, ficou para trás, juntamente com a milícia. A última visão que Sabiá teve ao virar-se para trás para segurar Gaivota foi a do teto desabando exatamente sobre o ponto em que eles haviam permanecido. Com certeza, agora o Corvo estava morto.

**********


Melodia Boêmia



Nós vamos abalar vocês




- Muito bem, agora que está tudo decidido, vamos colocar essa revolução para funcionar. - Gaivota olhou orgulhosa para a turma - Boa sorte!

Eles assentiram, saindo silenciosamente da rádio, deixando a boa senhora para trás. Ela sorriu. Tinha afinal chegado ao último ato. Seu velho coração havia suportado razoavelmente as últimas emoções, mas ela sabia que ele estava muito cansado.

Lentamente, ela colocou uma melodia para tocar. Aquela seria a última transmissão da rádio. Ela encostou-se à parede, adormecendo com a consciência de saber que havia feito a sua parte.

Buddy you're a boy make a big noise
Playin' in the street gonna be a big man some day
You got mud on your face
You big disgrace
Kicking your can all over the place
Singing

Em outro canto da cidade, uma ruiva mantinha seu ouvido encostado à porta, quando uma voz masculina se fez ouvir.

- Menina, casa comigo, que eu sou bom trabalhador. Com chuva eu não vou pra roça, com sol eu também não vou...

Beija-flor abriu a porta, deixando Pica-pau passar, enquanto sorria marotamente.

- Quem foi que colocou você para cantar essa quadrinha?

O rapaz não respondeu, caminhando direto para uma grande mesa cheia de computadores.

- Agora, Beija-flor, é hora de controlar o sistema central do governo.

We will we will rock you
We will we will rock you

Enquanto isso, depois de terem arrombado a biblioteca, Coruja tirava tudo do lugar.

- Temos que achar ele, Nix. Aquele livro trata exatamente do que queremos. É a única maneira de depor a Urubu.

Uma revoada de livros caiu das mãos dela sobre o pobre gato.

- Não se preocupe, Coruja. Eu achei o bendito livro. "A democracia". E sabe que ele dói um bocado?

Buddy you're a young man hard man
Shouting in the street gonna take on the world some day
You got blood on your face
You big disgrace
Waving your banner all over the place

Perto da sede da milícia, Uirapuru se preparava para sua parte.

- Sempre deixam a pior parte pra mim... - ele resmungou.

Teria que distrair os guardas, pegar as chaves e trancar a sala de armas para assegurar que tudo ocorresse pacificamente.

Uma pequena bombinha foi suficiente para tirar os guardas de seu caminho. Quando cumpriu sua missão, ele deixou o pequeno prédio da milícia e desceu para o escritório de Maria Antonieta, batendo na porta da sala de controle no caminho.

We will we will rock you
Sing it
We will we will rock you

- Atenção! - uma voz masculina falou pelos alto-falantes - Essa é uma convocação oficial. Todos devem comparecer à praça urgentemente.

Em sua sala, Maria Antonieta ouviu o comunicado e ficou apreensiva. Teria George retornado depois de dois dias? Ela levantou-se apressada, mas quando abriu a porta levou outro susto. Quatro jovens estavam parados lá, juntamente com um gato, cercando-a.

- Siga-nos, por favor, Maria Antonieta. - uma ruiva tomara a palavra, indicando a ela o centro do círculo.

Buddy you're an old man poor man
Pleading with your eyes gonna make
You some peace some day
You got mud on your face
Big disgrace
Somebody better put you back into your place

Na praça, Rouxinol e Sabiá estavam num púlpito que servia para realizar os comunicados do governo. Ele já havia contado sobre as mentiras do governo e agora só faltava tirar Urubu do governo para a revolução terminar. Logo ela chegou, rodeada por alguns jovens, entre os quais Beija-flor, Uirapuru, Coruja e Pica-pau, que, no caminho, tinham encontrado outros colegas que ansiavam por participar de toda aquela balbúrdia.

- Maria Antonieta. - a voz dele imediatamente foi reconhecida pela mulher. Sabiá. - Você não é culpada dos crimes de governos anteriores ao seu. Mas estamos cansados de viver nesses subterrâneos como ratos de esgoto. E vocês nos esconderam que a superfície era habitável. Nega isso?

Ela meneou a cabeça. Rouxinol adiantou-se para ela.

- Você abre mão de seus direitos políticos pacificamente, em favor de uma democracia?

- O que posso responder além de sim?

Sabiá sorriu. Eles haviam ganhado. Agora era só levar o povo à superfície e planejar as fundações de uma nova cidade.

We will we will rock you
Sing it
We will we will rock you
Everybody
We will we will rock you
We will we will rock you
Alright

**********


Melodia Boêmia



Epílogo: Melodia Boêmia




Rouxinol prendeu o cabelo enquanto tentava acabar de armar a bendita barraca. Ela só esperava que não tivesse que ficar daquele jeito por muito tempo. Pelo menos Beija-flor já estava fazendo os desenhos para a construção da cidade do vale das "Águas de março", como Nix dissera que se chamava aquele lugar.

Alguém segurou seu ombro e ela voltou-se cansada. Mas seu semblante se iluminou ao perceber quem era.

- Olá, Sabiá.

- Rouxinol, você pode ir com as meninas pegar Gaivota? Ela tinha dito que só era para procurá-la depois de todo mundo já estar aqui em cima.

- Se você arrumar minha barraca, eu vou.

- Eu arrumo. E... - ele começou a ficar levemente vermelho - Nós podíamos conversar quando você chegar?

Ela tentou esconder a súbita felicidade que sentiu.

- Cla-claro!

Rouxinol, Coruja e Sabiá voltaram para o subterrâneo, e quase três horas depois de caminhada, juntamente com Nix no ombro de Coruja, penetraram na rádio ga ga. Uma melodia suave ainda preenchia o ambiente e Gaivota estava recostada em um sofá, dormindo profundamente. Coruja aproximou-se suavemente da avó, chamando-a com carinho.

Rouxinol mordeu os lábios enquanto a menina tentava acordar Gaivota, assustada com a imobilidade da boa amiga. Ela aproximou-se das duas, colocando a mão junto ao coração de Gaivota. Ela não conseguiu reter as lágrimas.

- Coruja, ela está... sua avó se foi.

Nix se aconchegou no colo da menina, tentando passar a ela alguma consolação. Sabiá aproximou-se, envolvendo a aluna num abraço.

- Temos que levá-la lá pra cima. - Coruja enxugou uma lágrima teimosa - Ela não merece passar a eternidade aqui dentro. Que o último descanso dela seja junto ao céu.

*****


- E eu os declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva agora.

Sabiá tocou de leve nos lábios da, agora, esposa, e Rouxinol sorriu.

- E agora é a hora de jogar o buquê! - a noiva afastou-se de Sabiá, juntando-se às amigas.

Coruja sorriu divertida quando Beija-flor, de um pulo, agarrou o buquê. Alguém sentou-se ao lado dela, cantando.

- Is this the real life-
Is this just fantasy-
Caught in a landslide-
No escape from reality-
Open your eyes
Look up to the skies and see-
I'm just a poor boy,I need no sympathy-
Because I'm easy come,easy go
, A little high,little low,
Anyway the wind blows,doesn't really matter to me,
To me

- O que faz aqui, Pica-pau?

O rapaz sorriu para ela, entornando meia garrafa de refrigerante numa taça de vinho.

- Eu vou beber pra esquecer meus probrema...

Uirapuru aproximou-se, e os dois rapazes ergueram seus copos em um brinde.

- Eu vou beber pra...

- Vocês não vão beber nada! - Beija-flor acabara de chegar - Nem se atrevam a ficar bêbados de refrigerante!

- Mas, Beija-flor... - Pica-pau tentou argumentar.

- Vamos DANÇAR! - a ruiva saiu, carregando Uirapuru.

- Isso mesmo. Vem, Coruja!

- Não, vá você... Eu tenho uma idéia melhor...

Pica-pau deu de ombros e foi para a pista de dança, onde Rouxinol e Sabiá já dançavam. Pouco tempo depois, Uirapuru e Beija-flor voltaram a se aproximar. Enquanto Nix, deitado preguiçosamente sobre a mesa, saboreava os quitutes que a dona lhe dava.

- E então? Podemos ir agora? - Coruja perguntou, divertida, para Beija-flor.

- Ir aonde? - Uirapuru perguntou, ainda meio zonzo pela maneira como a amiga o rodara na pista.

As duas olharam divertidas para o rapaz.

- CANTAR, É CLARO!

Os três subiram no palco, pegando os microfones. Pouco depois dos primeiros acordes, os outros radialistas se juntaram a eles.

- Here we stand or here we fall
History won't care at all
Make the bed, light the light
Lady Mercy won't be home tonight.

You don't waste no time at all
Don't hear the bell but you answer the call
It comes to you as to us all
We're just waiting
For the hammer to fall

Oh every night, and every day
A little piece of you is falling away
But lift your face, the Western Way -
Build your muscles as your body decays.

Tow the line and play their game
Let the anaesthetic cover it all
Till one day they call your name
You know it's time for the Hammer to Fall.

Rich or poor or famous for
Your truth it's all the same
Lock your door but rain is pouring
Through your window pane
Baby now your struggle's all vain
.
For we who grew up tall and proud
In the shadow of the Mushroom Cloud
Convinced our voices can't be heard
We just wanna scream it louder and louder

What the hell are we fighting for ?
Just surrender and it won't hurt at all
You just got time to say your prayers
While you're waiting for the Hammer to Fall.

Fim



**********

No comments: