Friday, February 28, 2014

Making Peace

O enlace matrimonial de Adhara Ivory e Samuel Leigh foi marcado para meados de Agosto. A cerimônia e a recepção dos convidados aconteceria no casarão dos Ivory, conhecido como Meldrum Place, em Londres.

Os jardins que apenas um ano antes foram palco do casamento de Kamus e Frida uma vez mais estavam decorados para as festividades. Um tapete marfim estava esticado sobre o gramado impecável para a noiva passar, ornado por arranjos de crisântemos e alstroemérias brancas e hortênsias azuis. Cadeiras brancas foram postas em cada lado da passarela e um grande arco de flores ornava o altar montado para os noivos, os padrinhos e o juiz oficiante.

Mais ao longe, tendas brancas com lustres de cristais foram armadas para abrigar as mesas dos convidados no decorrer da festa. Uma orquestra bruxa estava pronta para tocar e entreter os convidados e um serviço de buffet completo fora contratado.

De início, a intenção dos noivos era que o enlace fosse pequeno e íntimo… No entanto, com Kamus Ivory e Joseph Philliwick de volta aos seus postos de influência no Ministério da Magia, Adhara e Samuel constaram que uma reunião discreta no jardim estaria fora de cogitação. Assim, o que era para ser apenas um casamento acabou se tornando um evento social e político. Para os noivos aquilo pouco importava. Seus convidados poderiam ser o Ministro da Magia em pessoa ou o zelador de Hogwarts, para eles não fazia diferença. O crucial era que estavam, enfim, se casando.   

Adhara observava o movimento da festa através das janelas de seu antigo quarto enquanto a madrasta e a avó davam os últimos retoques em seu penteado. Houvera tanto a fazer e acertar nos dias que precederam ao casamento que ela acabara por passar os seus últimos dias de solteira ali, na casa do pai. Por um lado havia sido bom, pois pudera se despedir apropriadamente do lugar que fora seu lar por tanto tempo, por outro ela estava com imensas saudades de Samuel… Mas, enfim, tudo acabaria naquele dia. Um pouco mais e ela estaria com ele para sempre.

- Pronto, querida. Acho que você não consegue ficar mais bonita do que já está – disse Mira Timms, admirando a neta com lágrimas nos olhos.

A jovem noiva abandonou seus devaneios e deu as costas para a janela a fim de observar seu reflexo no grande espelho que instalaram no quarto.

Seu cabelo havia sido completamente cacheado e preso em um coque meio bagunçado. A maquiagem era leve, apenas o suficiente para destacar seus olhos e lhe conferir um ar saudável. O vestido de noiva, que originalmente fora desenhado para a sua bisavó, Emeline Barton, era de mangas curtas, todo rendado, justo no corpo e abrindo-se em uma saia discreta e sem volume a partir dos quadris, com uma cauda curta no final. Ela optara por não usar nenhum véu.

 Adhara sorriu. Ela estava exatamente como desejava.

- Está linda, hija – disse Frida, brindando a noiva com um sorriso orgulhoso.

Dhara correspondeu ao sorriso de Frida, não apenas pelo elogio, mas, principalmente, pela maneira carinhosa como a loira referiu-se a ela. Entendia o suficiente de espanhol para saber que Frida estava a chamando de filha.

Meri, que, como madrinha, estava também engajada na tarefa de ajudar a noiva se arrumar, aproximou-se da prima com uma expressão exultante e deu um longo abraço na morena.

- Eu estou muito feliz por você, sabia? – comentou a ruivinha.

- Eu sei. E não vejo a hora de ficar igualmente feliz por você e pelo Lucien.

Meri riu e soltou-se da prima. Sabia que Dhara estava apenas brincando, por isso a indireta não a incomodava. Ela e Lucien teriam seu momento, quando a hora certa chegasse.

- Sua mãe estaria muito orgulhosa de você – comentou Mira, secando discretamente os cantos dos olhos com um lenço da mesma cor da roupa que usava. – Estou tão feliz que você tenha aceitado o vestido. Eu sempre sonhei que a minha Annabelle o usaria também… – a voz da senhora quebrou-se ao final em um discreto soluço e ela sentou-se pesadamente na cama da neta, com medo que as próprias pernas não a sustentassem.

Adhara mordeu o lábio e lançou um olhar para Frida e Meridiana.

- Poderiam nos dar um momento? – Pediu ela.

As duas assentiram e deixaram o quarto, concedendo a privacidade que avó e neta necessitavam naquele momento delicado.

Quando a porta do quarto se cerrou, Adhara sentou-se na cama ao lado da Sra. Timms.

Mira fungou e procurou recompor-se.

- Ah, minha querida, me perdoe. A cerimônia sequer começou e eu já estou aqui, chorando como uma criança!

- Está tudo bem – respondeu Adhara, em um tom ameno.

Ela hesitou por um instante antes de estender a mão e segurar um das mãos da avó. Pela maior parte de sua vida ela tivera uma relação conturbada com Mira Timms. Crescer sentindo que era uma mera substituta da figura de sua mãe era uma coisa terrível para uma criança. Mas aquilo tudo era passado. Todas as coisas que lhe aconteceram a partir do seu quinto ano, tanto as terríveis quanto as maravilhosas, lhe ajudaram a encontrar paz com a memória de Annabelle Timms. Ser comparada com a mãe não mais lhe incomodava. Hoje, Adhara sabia quem era.

- Vó… Eu sei que a senhora nunca concordou realmente com o relacionamento dos meus pais e o modo como eles escolheram levar a vida deles… Mas eu sei que eles foram felizes juntos, ainda que por pouco tempo.

- Oh, eu sei, Adhara, eu sei. Há tempos já deixei de lado a rusga que tinha com o seu pai. É só que… A sua mãe foi a minha única filha e a morte dela não parou de me doer um dia sequer. – ela meneou a cabeça e então focou os olhos no rosto da neta – Um dia, querida, você terá os seus filhos e então saberá como é ter uma parte do coração que cresce fora do seu peito.

A morena abaixou o rosto. Não havia realmente nada que pudesse dizer para amenizar a perda da sua avó. No entanto, talvez houvesse algo que ela pudesse fazer a respeito.

Adhara soltou a mão da avó e levantou-se da cama. Ela apanhou a varinha que estava sobre a penteadeira e, com um floreio, conjurou um baú grande, de madeira escura, trancado com uma fechadura de ferro.

Guardados naquele baú estavam todos os pertences de sua falecida mãe que ainda se encontravam na casa dos Ivory. Com a mudança de Frida para o casarão, não pareceu bem a Adhara que seu pai ainda mantivesse um mausoléu para a falecida mulher. Não seria correto com Frida e nem com a memória de Annabelle que as duas dividissem a mesma casa. Ao mesmo tempo, se desfazer de tudo era inconcebível. Assim, com a permissão prévia de Kamus, ela decidira remover todas as coisas de sua mãe para a nova casa que teria com Samuel. No entanto, ela agora pensava que havia um destino mais apropriado para as lembranças de Annabelle.

A morena suspirou e tocou com carinho a tampa da arca. Não eram apenas o legado de Annabelle que estava ali, eram também memórias de sua infância, descobrindo a mãe, descobrindo a si mesma e a sua história... Não podia negar que seu coração apertava um pouco ao se separar daquilo tudo.

Ela fitou os olhos da avó, que a observava com curiosidade.

- Vó, aqui neste baú estão todas as coisas que eram da minha mãe. Eu sei que algumas roupas, fotos e diários nunca vão conseguir tomar o lugar da original… Mas eu gostaria muito que a senhora e o vovô Christopher ficassem com elas.

Mira soltou uma muda exclamação e levou a mão aos lábios. Seus olhos voltaram a brilhar com lágrimas que ela lutava para não derramar. Foi somente após alguns minutos que a senhora conseguiu falar.

- Obrigado, Adhara.

A jovem noiva sorriu de forma carinhosa e, dessa vez sem hesitar, abraçou a avó. Quando viu o brilho nos olhos verdes de Mira, ela percebeu que havia feito a escolha certa. Finalmente, estava em paz com aquela parte da sua vida e pronta para começar uma nova história.


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