Sunday, March 02, 2014

Felizes para sempre

Meridiana se encostou no carvalho frondoso, observando com atenção às duas lápides de mármore negra. 
Em uma delas, um pequeno relevo mostrava a forma de uma fada, na outra, mais recente, um príncipe. As fotos dos pais a fitavam com sorrisos serenos. 

Ela sentiu um aperto na garganta e lágrimas teimosas surgindo nos cantos dos olhos. Havia prometido a si mesma que não iria chorar, mas a dor foi maior que a razão,  e ela se inclinou, abraçando os joelhos, deixando as lembrança da tragédia a engolfarem, e liberando do o pranto que se mantivera calado ao longo daqueles meses. 

Ela limpou os olhos com as costas as mãos, fixando o olhar na foto do pai. Abriu a boca para falar, mas a voz morreu no meio do caminho.  Tentou uma segunda vez.

-Eu peço desculpas, pai... - ela começou, ainda um pouco hesitante - Sei que demorei a vir vê-lo... A verdade é que durante todos esses meses eu até mesmo evitava falar no seu nome. Vir aqui, falar sobre você era tornar real a sua morte, tornar tudo mais concreto e definitivo, e na insanidade da minha cabeça se eu negasse que você morreu, não precisaria me despedir. 

Ela colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, mordendo de leve os lábios. 

- Queria  te contar que desisti de ser auror. Já vi mortes demais na minha vida, minha alma ficou cansada demais depois dessa guerra, e percebi que não preciso dar continuidade à vida de minha mãe, preciso apenas viver a minha. 

Um  discreto sorriso surgiu nos lábios da moça.

-Vou começar a estudar na Academia de Ciências Alquímicas no próximo mês. As aulas atrasaram por causa da aplicação dos NIEMs e eles estenderam o prazo para as inscrições. Soube ontem que fui aceita. Estou pensando seriamente em estudar magia comparada, no fim das contas tenho um pouco de experiência com alta magia por causa de Hogwarts, com antiga magia por causa de Lusmore  e Holly, e, infelizmente, com necromancia por causa do período que estive com Ludovic. Acho que pode se interessante, quem sabe eu até vire professora? 

Meridiana se levantou, pousando a mão sobre a lápide do pai.

-Preciso ir, Lucien está me esperando. Eu te amo, sempre vou te amar, mas preciso deixar você ir, e acreditar que em algum lugar você está feliz ao lado da mamãe.

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Deitada no colo de Lucien, Meridiana fitava as nuvens passeando tranquilamente pelo céus, naquele dia cheio de tranquilidade.

-Tem certeza que é só isso que você quer? - o austriaco falou, enquanto deixava que seus dedos afagassem com ternura os cabelos da namorada - Hoje é seu aniversário, poderíamos sair e dar uma festa, a maioria do pessoal ainda não começou a estudar...

-Não - ela murmurou baixinho - Não quero comemorar... acho que, como todos, quero um pouco de tranquilidade. Sei que já fazem alguns meses desde o fim da guerra, mas acho que ainda estamos naquele ritmo de colocar as coisas no lugar. Estou feliz por todos terem lembrado e mandado mensagens e presentes... A única coisa que preciso no momento é deste piquenique e de você aqui comigo. 

O moreno sorriu, ele compreendia perfeitamente os sentimentos da sua amada. Aquela necessidade de sentir paz não apenas nas grandes comemorações, mas também nas pequenas coisas da vida.

Ele percebeu os olhos dela começarem a pesar ao mesmo tempo que Meridiana soltava um bocejo.  Sem que ela pedisse, ele começou a cantarolar uma das músicas favorita dela, uma que a acalmava,  que o falecido Nicholas cantava para ela quando menina. 

Golden Slumbers fill your eyes
Smiles await you when you rise
Sleep, darling, do not cry
And I will sing a lullaby

Enquanto sentia os olhos se fechando e a música acalentando calorosamente seu coração, Meridiana, ela se lembrou das palavras do pai para o final do conto de fadas que Nicholas criara para ela, para contar a história de amor dele e Elizabeth. Aquelas palavras descreviam exatamente o que Meri sentia naquele momento, em relação a Lucien, a sua família, a seus amigos, e ao futuro que lhe aguardava:

"Eles foram felizes para sempre. Enquanto ficaram juntos, foram felizes para sempre como poucas pessoas sonharam ser".

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