Saturday, July 20, 2013

O Mausoléu

- Malditos sejam todos eles! – praguejou baixinho, apertando instintivamente o pingente em forma de letra “A” que sempre trazia em volta do pescoço.

Os grossos pingos de chuva batiam com força na janela do meu quarto, Valkíria piava baixinho na gaiola, incomodada com o barulho da tempestade. Faziam horas que eu não conseguia dormir, não porque me incomodava com a chuva, mas porque simplesmente não conseguia fechar os olhos e me acalmar.

Puxei o pingente em forma de “A” de dentro da camisola e o observei por alguns instantes. Tive vontade de arrancá-lo do meu pescoço e joga-lo pela janela, para que o vento se encarregasse de levá-lo para bem longe de mim.

Porém, não tive coragem e acabei por guardá-lo novamente dentro do decote da camisola, tomando cuidado para que eu não pudesse vê-lo. Levantei-me do batente da janela onde estava sentada e caminhei pelo quarto escuro. Antes de sair ainda tive o cuidado de pegar a minha varinha e uma vela que queimava em cima da mesa de cabeceira.

Abri a porta e caminhei em silêncio pelo corredor de soalho escuro e paredes nuas. Subi uma escada em forma de caracol e cheguei a um patamar vazio, a minha frente havia apenas uma porta de madeira escura.

Cruzei o espaço que me separava do portal e estendi a mão para a maçaneta prateada, tentando abri-la, foi inútil, estava trancada. Ergui a varinha que segurava na mão direita e murmurei um feitiço:

- Alorromora. – a fechadura destrancou-se e eu entrei.

O lugar continuava o mesmo, vi a minha mãe sorrindo para mim de todos os lados, as paredes estavam forradas com retratos dela. Deixei a vela que segurava em cima de um aparador de vidro e adentrei o aposento.

Aquele cômodo era uma espécie de mausoléu para minha mãe, tudo o que havia pertencido a ela quando estava viva se encontrava agora trancado naquele lugar. As roupas, os livros, as fotos, as jóias, tudo. Meu pai fazia questão de manter o mausoléu trancado e intocável, ele nem imagina que eu tenha descoberto o que está escondido aqui.

Caminhei até uma prateleira e tirei dela um álbum de fotografias encadernado em couro preto.

- Lumos. – a ponta da minha varinha acendeu e eu me sentei no tapete puído que ficava em frente à lareira que eu suspeitava não ser acesa havia muitos anos.

Folheei o álbum com atenção, a cada foto que passava eu me convencia cada vez mais de que minha mãe fora uma mulher muito feliz, e principalmente livre.

Livre, sem ninguém para lhe fazer sombra ou um fantasma invisível para persegui-la.
Eu quase a odeio por ter morrido... Mas então me lembro que foi ela quem me deu a vida e o ódio que eu sinto parece diminuir...

A verdade é que eu ainda não sei o que sinto por Anabelle Timms.


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