Mágoa

Adhara havia acordado muito cedo naquela manhã. Para o bem da verdade, mal fechara os olhos durante a noite. No momento a ocupação da sonserina era transportar sua bagagem até a porta do castelo com um feitiço de levitação. Seus movimentos eram quase mecânicos, e o rosto dotado de pura inexpressão. Era uma boneca cuja corda parecia estar quase no fim...

Mas algo despertou a garota de seu estado de semi-estupor, uma voz que chamava o seu nome. Ela virou-se, e avistou Meridiana, que descia rapidamente os degraus da escadaria de mármore para vir ao seu encontro. A grifinória sorriu ao aproximar-se da prima.

- Finalmente te encontrei, você parece ter simplesmente desaparecido nos últimos dias. Nem mesmo a vi no banquete, ontem. – disse Meri.

- Eu não fui ao banquete, não estava com vontade.

O sorriso de Meridiana vacilou ante a resposta seca da prima e seus olhos arregalaram-se levemente de surpresa. O que acontecera com a Adhara? Na última vez em que a vira, a sonserina até mesmo lhe dirigira um discreto sorriso, gesto que significava muito vindo da garota de cabelos cinzentos.

- Aconteceu alguma coisa, Adhara? – a grifinória perguntou de maneira cautelosa, desejando intimamente que a prima abandonasse a rudeza e voltasse a trata-la da mesma maneira polida, embora menos fria, que adotara durante as últimas aulas de Astronomia que haviam tido juntas.

Adhara cerrou os olhos, nunca lhe passara pela cabeça que Meridiana Johnson pudesse ser tão cínica! A grifinória, mais do que ninguém, deveria saber o que acontecia! Afinal fora ela, e nenhuma outra pessoa, que havia estado em segredo com Kamus Ivory... Pois bem, se Meri queria fingir que nada havia ocorrido, então a sonserina agiria da mesma forma, duas poderiam participar aquele jogo.

- Nada que lhe diga respeito, Johnson. – a garota fez questão de dizer aquilo da maneira mais despida de emoções que fora capaz.

Adhara então deu as costas à ruiva, sequer interessada em ver a reação que as suas palavras causaram na prima, e abriu as portas de folhas duplas, descendo pela soleira para apanhar uma das carruagens que já estavam posicionadas na frente do castelo.

E dessa forma terminava o quinto ano de Adhara Ivory em Hogwarts, levando consigo a mágoa e o rancor, e deixando para trás nada mais do que um grande mal entendido.