Os exames de Níveis Ordinários em Magia haviam terminado, e era palpável
a sensação de alívio que reinava na escola. Após semanas ocupadas inteiramente
com aulas e revisões nas horas livres, tudo o que os estudantes queriam naquele
momento era descanso e tranqüilidade. Os últimos dias antes do término do ano
letivo transcorreram-se de maneira relativamente calma, apesar do rastro de
boatos e cochichos que percorria todo o castelo, e o tema não poderia ser outro
além do menino-que-sobreviveu e Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado. Conversas de
fim de ano envolvendo Harry Potter e o chamado Lord das Trevas já haviam
tornado-se uma tradição em Hogwarts desde que o filho de James e Lily Potter
ingressara na escola.
Trancada sozinha em seu dormitório, nas masmorras da Sonserina, Adhara
Ivory tentava permanecer distante das conversas. A aparição de Voldemort em
pleno Ministério da Magia e a prisão de vários de seus seguidores tivera uma
maior repercussão na Ala das Serpentes do que nas demais Casas de Hogwarts.
Isso devia-se a motivos óbvios, vários dos bruxos aprisionados como Comensais
da Morte eram pais de alunos da Sonserina.
Naquela manhã Adhara havia avistado Draco Malfoy, Vincent Crabbe e
Gregory Goyle conversando por sussurros no mínimo conspiradores em um canto da
sala comunal. Já seu primo, Theodore Nott, parecia ter sumido de circulação na
última semana, uma atitude sensata, mas que não fora o suficiente para manter o
seu nome afastado das más línguas. A própria Adhara ouvira seu sobrenome ser
mencionado algumas vezes, devido ao seu parentesco com os Nott. De qualquer
jeito, ela não via como a prisão do pai de Theodore poderia vir a afetar a sua
vida ou a de Kamus. Estaria sendo cínica caso dissesse que se preocupava com o
futuro dos Nott, no que dizia respeito a Adhara, eles nem poderiam ser
considerados da sua família.
A garota foi distraída da tarefa de guardar seus pertences dentro do
malão por um barulho vindo da janela do quarto. Virou o rosto, os olhos de sua
coruja branca brilhavam através do vidro. Ela largou a capa que estava dobrando
e caminhou rapidamente até a janela para abri-la. Valkíria esvoaçou um pouco
pelo aposento antes de pousar sobre a cama de sua dona.
A sonserina abaixou-se para desamarrar o rolo de pergaminho que estava
preso na pata escamosa da ave e sentou-se na cama. Na manhã em que tiveram
início os seus exames ela havia mandado uma carta para o pai, informando o dia
e a hora de seu desembarque em King’s Cross. Esse era um hábito que cultivava
desde que começara a estudar em Hogwarts, e Kamus geralmente lhe mandava uma
resposta curta, apenas confirmando que estaria na estação para busca-la. Os
dedos da jovem hesitaram um pouco ao desenrolar o pergaminho...
“Adhara,
Lamento ter mantido sua coruja em Londres por tanto tempo, mas estava
esperando por uma confirmação que recebi apenas hoje à tarde. Este ano não
poderei ir busca-la em King’s Cross, a data de sua chegada coincidiu com uma
viagem que farei a pedido do Ministério. Caso tenha lido o Profeta Diário de
ontem, saberá do que se trata...”
Adhara compreendeu a referência do pai, naquele dia o Profeta noticiara,
em uma grande matéria que ocupara quase todas as páginas da edição, o retorno
de Lord Voldemort. Então Kamus estaria em uma missão como auror.
“Visto que você ainda não possui autorização para aparatar, recomendo
que use algum meio de transporte trouxa para ir até o Caldeirão Furado. Uma vez
lá, poderá chegar em casa através da Rede de Flu.
Tenha uma boa viagem,
Kamus Ivory.”
A sonserina permaneceu imóvel, ainda com o olhar focalizado sobre o
pergaminho mesmo após haver terminado de lê-lo. Seu pai não dissera uma só
palavra para justificar sua presença em Hogwarts alguns dias atrás. Na noite em
que realizara o seu exame de Astronomia, enquanto Dolores Umbrigde promovia um
ataque a Hagrid nos terrenos da escola, em uma sala vazia do castelo, sem o
conhecimento da filha, Kamus estava conversando com Meridiana Johnson. Adhara
havia seguido a prima quando notara ela deixando a torre no meio do exame e
visto quando a grifinória abraçara o seu pai... E Kamus parecia ter
correspondido. Naquela noite Adhara tentara recordar-se quantas vezes, durante
seus 15 anos, o pai havia lhe abraçado ou demonstrado afeto. Sem dúvidas essas
ocasiões eram muito raras.
Adhara jogou-se de costas sobre a sua cama de colunas, o impacto de seu
corpo com o colchão acabou assustando Valkíria, fazendo a coruja levantar vôo,
apressada, para a torre do corujal.
A sonserina amassou o pergaminho que segurava entre os dedos, encarando
desfocadamente o dossel escuro. Talvez realmente fosse melhor não rever o pai
tão cedo, pelo visto ele próprio desejava protelar aquele encontro... Ela
fechou os olhos, deitando de lado na cama. Decidiu que não iria ao banquete de
fim de ano, que já estava em andamento no Salão Principal.
No comments:
Post a Comment