Saturday, July 20, 2013

A Fotografia

Os poucos raios de sol que conseguiam atravessar as grossas cortinas iluminavam o meu rosto, sentia algo me cutucar de maneira incômoda.

- Menina Dhara, menina Dhara! – uma vozinha aguda me chamava insistentemente.

Abri os olhos, contrariada, e sentei-me no tapete puído em que acabara dormindo sem perceber. Encarei o pequeno ser de olhos grandes e cinzentos, nariz comprido e orelhas de morcego que estava sentado na minha frente.

- O que foi, Mime?

- Menina Dhara, o que está fazendo aqui? Sabe muito bem que o mestre Kamus não gosta que entrem nesse lugar! Ah se ele encontra a menina aqui... – a pequena elfa cobriu os olhos com as mãos de dedos finos e sacudiu a cabeça – Mime nem quer pensar na desgraça que seria!

Franzi a testa, observando a elfa que murmurava palavras desconexas enquanto continuava a balançar o rosto escondido entre as mãos. Mime tinha reações muito exageradas para o meu gosto.

Apanhei o álbum de fotografias que estava olhando na noite anterior e levantei-me, caminhando até a estante repleta de livros que havia do outro lado do cômodo. Estendi o volume encadernado em couro preto que segurava para devolvê-lo a prateleira, mas uma das fotos acabou desprendendo-se do álbum e caiu sobre o chão. Abaixei-me para pega-la e devolve-la ao álbum quando de repente ouvi Mime soltar um grito agudo. Virei-me, ainda segurando a foto, e fitei a elfa que tinha um olhar assustado.

- Tem alguém vindo para cá menina Dhara! – ela balbuciou, parecia aterrorizada.

Fiquei em silêncio, tentando captar algum ruído, então pude ouvir claramente passos que avançavam pelo corredor. Mime correu até mim e puxou-me pela mão até a parede oposta que era coberta por uma tapeçaria antiga cor de vinho.

- Depressa menina, depressa! – ela enfiou na minha mão a varinha que eu havia esquecido caída no tapete e afastou a tapeçaria, deixando a mostra um espelho grande e retangular. Encarei meu reflexo por alguns instantes quando Mime, sem aviso, empurrou-me na direção dele.

Foi como atravessar uma cortina de água gelada. Quando abri os olhos, que nem lembrava que havia fechado, deparei-me com um corredor escuro e úmido, com paredes de pedra onde estavam presos candelabros prateados com três velas cada um. Segui reto e virei à esquerda apenas uma vez na terceira bifurcação, avançava segura pelo corredor, conhecia muito bem aquele caminho, já havia usado-o várias vezes. Desci uma escadaria estreita e apenas alguns passo me separavam de um buraco quadrado na parede de pedra. Escorreguei pela passagem e empurrei a porta que trancava a saída. Em poucos segundos estava de volta ao meu quarto, ajeitando o quadro de três ninfas que brincavam alegres num campo de flores e escondiam a entrada para o corredor.

Deitei-me na minha cama, ainda arrumada, e encarei o dossel de tecido escuro. Foi então que me dei conta de que ainda segurava a fotografia que havia desprendido-se do álbum. Finalmente olhei para o retrato e logo pude reconhecer minha mãe e meu pai, vestidos com roupas de gala, aparentavam ter quase a minha idade e estavam acompanhados por uma moça e uma rapaz também jovens, ambos tinham cabelos ruivos, olhos verdes e feições um tanto parecidas. A moça ruiva sorria de maneira radiante, assim como Anabelle, meu pai mantinha uma expressão serena no rosto e abraçava minha mãe pelos ombros, e o outro rapaz, o mais alto dos quatro, tinha um pequeno sorriso nos lábios enquanto observava de maneira carinhosa a ruivinha sorridente.


Caminhei até o malão onde guardava minhas vestes e livros de Hogwarts e guardei o retrato no meio de um dos meus livros. Iria devolvê-lo para o álbum em algum outro dia. 

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