Parte I
Mina largou-se na poltrona, derrubando no chão a pilha de livros que
carregava consigo. Queria ler alguma coisa bem leve para se distrair, pensar em
outra coisa que não fosse a proximidade das férias. Respirando fundo, ela
virou-se para o material, jogado de qualquer maneira sobre a mesa. Uma bola de
papel amassada reinava sobre a confusão.
Ela estalou os dedos, um a um, os olhos fixos sobre a pequena bola de
papel.
- Bem, pelo menos tem o vovô... - ela resmungou baixinho para si mesma.
Mas no dia em que seu avô faltasse... Se dependesse de seus pais, ela
certamente ficaria sozinha. Eles tinham mesmo que viver viajando?
- Canadá... O quê, por Merlin, eles vão fazer no Canadá?
- Mina!
A grifinória pulou da poltrona, encarando os rostos sorridentes de
Meridiana e Selune.
- Vocês estão tentando me enfartar? - Mina colocou dramaticamente a mão
sobre o peito - Aviso logo que seus nomes não estão no meu testamento.
- Mina, você nunca pensou em fazer teatro? - Meri perguntou rindo. Cada
dia que passava, a ruiva gostava mais e mais desse jeitinho divertido da
quartanista.
- Você não está falando sério, está? - a garota de óculos ergueu-se num
pulo, ao lembrar que a amiga fazia parte do grupo de teatro da escola. Meri
perdera a cabeça se achava que, ela, Mina Mac Fusty, avessa a badalações,
gostaria de se apresentar em um palco na frente de toda a escola. Só de
imaginar, seu estômago embrulhava.
- Quem sabe Miss Rennard não te aceita na trupe? - Meridiana continuou
falando, aparentemente séria, mas tentando conter o riso ante o rosto apavorado
de Mina.
- Eu... eu... - gaguejou a garota mais nova.
A ruiva não se conteve e começou a rir.
- Calma, Mina. Só estou brincando. Claro que eu nunca iria te chamar
para o grupo de teatro, sei o quanto você é tímida.
- Meri! Assim você me enfarta de verdade!!!! Já te disse que você não
está no meu testamento!
- Quer saber de uma coisa, você anda é lendo muito Aghata Christie, isso
sim.
Selune que se mantivera a parte de diálogo, apenas observando tudo com
um sorriso entre os lábios, se pronunciou:
- Meri, é melhor nos apressarmos ou vamos estragar a surpresa.
- É verdade! Mina, viemos te convidar para uma pequena
"aventura". Larga esses livros e vem com a gente. Tem uma coisa que
queremos te mostrar no jardim.
A garota olhava de Meridiana para Selune, indecisa. Deveria ir com as
duas? Por que não? Afinal, não tinha nada importante para fazer mesmo.
As três grifinórias seguiram em direção ao quadro da Mulher-Gorda,
parando apenas para que Meridiana recolhesse uma pequena gatinha cinzenta que
brincava distraída com um novelo de lã. A passos largos, as três chegaram à
faia em que Meri, Sel e os demais amigos costumavam se encontrar. Lá havia uma
larga toalha xadreza, uma enorme cesta, uma garrafa térmica e algumas canecas.
Também se encontravam duas meninas que Mina reconheceu assim que as viu. A
primeira era uma quintanista da Grifinória, de cabelos castanhos, que ela já
vira algumas vezes com Selune e Meri. A outra era a moreninha simpática e
maluca da sonserina que elogiara tanto o seu texto quando se conheceram na
cozinha do castelo.
- Oi, meninas! - Selune cumprimentou, simpática. - Deixa eu apresentar a
vocês. Esta é Mina Mac Fusty, a dona da namorada de mon Lucky. Mina, estas são
Bianca Grovey e Raven Sinclair.
- Prazer. - disse Biba, estendendo a mão ao que a outra garota
correspondeu.
- Eu já conheço a Mina. - disse Raven, sorrindo - Nós nos esbarramos na
cozinha dias atrás. Encontrei uma companheira de guloseimas.
- É verdade. - concordou Mina, ligeiramente vermelha - Como eu te disse
naquele dia, um pouco de açúcar sempre é bom.
- Tá vendo? - a sonserina deu um olhar incisivo para a amiga ruiva - Eu
vivo falando isso para Meri, mas ela nunca me entende. Acha que comer é perda
de tempo...
- Também não é assim, Rav...
- Hum... Desculpa interromper, mas o que afinal estamos fazendo aqui? -
perguntou a garota de óculos.
- Um chá de bebé para nossos pequenos enfants felinos. - disse Selune -
Achei que deveríamos comemorar a ocasião. Temos nós, as grand-mères dos bebês,
nossas madrinhas-convidadas, e é claro, os pais e seus amigos felinos....
Foi só então que Mina percebeu que próximo à faia estavam sua gata
Freyr, Lucky, o gato de Selune, Bichento, o estranho gato de Hermione Granger,
um gato siamês que ela lembrava ter visto no dia do nascimento dos filhotes, e
uma linda gata parda que ela vira algumas vezes na ala da Grifinória.
- E cadê os bebês?
- Bem aqui - respondeu Bianca- enquanto se abaixava pra pegar um pequeno
caixote, escondido atrás da faia. - Hagrid acabou de deixa-los conosco antes de
entrar na Floresta Proibida.
- Então, já que está tudo pronto. Vamos nos sentar e comer? - Raven
esfregava as mãos, ansiosa.
Selune coçou a cabeça, encabulada.
- Não está tudo pronto não, Rav. Falta escolhermos os nomes. Acho que me
empolguei demais e, bem... Fiz uma lista de nomes, incluindo as sugestões de
Mina e Meri. Depois de muito cortar, acabei selecionando apenas oito . Mas
ainda estou indecisa! Queria que me ajudassem, votando naqueles que mais
gostaram.
- Ah, Sel, não tem jeito de ajudarmos enquanto enchemos o estômago? -
falou a sonserina, suplicante.
- Claro que sim, ma chèrie! - disse a francesinha.
Sentadas na toalha, as meninas se preparavam para comer. Selune tirou de
sua mochila um pequeno caderno de capa rosada, falando para as demais a seleção
de nomes que fizera. Enquanto isso, a pequena Lady Bast, trazida, para a festa
por Meridiana, se espreguiçava no colo da dona. Pelo que entendera da conversa,
a gatinha farejou alguma novidade no ar. Pulou do colo de Meri, seguindo em
direção aos gatos mais velhos, que estavam em volta de uma caixa de madeira.
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Parte II
- Sem querrer ser convencido, mes amies, mas eu prreciso dizerr: não são
lindos os nossos bebês??
Elegantemente sentado à frente de uma larga caixa de madeira onde
brincavam quatro lindos gatinhos, Lucky, o orgulhoso pai da ninhada, sorria
feliz enquanto olhava amorosamente para sua companheira Freyr, mãe dos bebês.
Ela se recuperara bem do parto, e seu pêlo sedoso brilhava ao sol; às vezes
lambia um ou outro gatinho, lavando-lhes as orelhas ou arrumando-lhes os
bigodes.
- Lucky, meu caro, não só você como Freyr merecem mesmo os parabéns. -
respondeu Jack, o gordo siamês de Raven. - Veja só como estão espertos e
gordinhos os filhotes! As meninas não podiam ser mais lindas, e os meninos não
mais garbosos! Concorda, Felícia?
- Como não, Jack? - ronronou Felícia, a gata parda de Herman Mercury,
encarando-o com seus lindos olhos verdes. - Por acaso existe coisa mais linda
do que um filhote?
- Ah, a criançada aqui que me perdoe, mas existe coisa mais linda sim:
você, princesa, você... - respondeu Bichento, cheio de manha, piscando o olho
para a gata.
- Não seja inconveniente, Bichento. Tenha respeito pela família aqui
reunida! - resmungou Jack, mais irritado do que desejaria.
- Ih, aí, mia sério, meu! Onde é que tá o desrespeito? Só to chamando a
mina aqui de linda, e ela é mesmo! E tu também acha, Banhoso! - retrucou
Bichento, cutucando o dorso redondo de Jack.
- Bichento, eu... Eu... Você...
- Ooooooooooooooooooooiiiii!!!!
A reação – ou quase isso – do grande siamês foi cortada cerce por um
miadinho extremamente gentil e feliz de uma linda bolinha prateada de olhos
violeta que surgiu de repente entre eles.
- Oi, Tio Jack! Oi Bichento! Oi todo mundo!
- Princesinha!! Cê tava sumida, fofa, fiquei com saudades! - exclamou
Bichento, afagando-lhe as orelhas.
- Eu também estava com saudades! Tio Jack, por que você está com essa
cara feia? Pisaram no seu rabo?
Jack resmungou alguma coisa entre dentes, o que fez os demais gatos
rirem discretamente. Lady Bast – pois outra não era a curiosa bolinha de pêlo –
aproximou-se de Felícia e exibiu-lhe, orgulhosa, um sorriso cheio de dentes.
- Olha só, tia Felícia, você tinha razão! Não fiquei banguela não, pelo
contrário, tenho mais dentes agora! Bem que você me disse aquela vez para eu
não chorar!!
- Pois é, meu amorzinho - ronronou Felícia. - Tudo o que quiser saber
que esses dois bobos aí não souberem explicar, pode me perguntar, combinado?
- Combinado! - exclamou Bast, batendo as patinhas. Depois, curiosa,
aproximou-se devagar da borda da caixa de madeira, de onde quatro pares de
redondíssimos olhinhos a fitavam, mesmerizados.
- Hum... Posso? - perguntou ela, encabulada, para Lucky e Freyr,
apontando os gatinhos.
- Claro, querida - respondeu Freyr. - Conheça nossos filhotes, podem ser
seus amiguinhos e amiguinhas.
Bast cheirou os gatinhos, que a cheiraram de volta. Uma das gatinhas a
lambeu gentilmente no rosto, e um dos gatinhos deu patadinhas leves em seu laço
de fita. Bast brincou com todos, visivelmente encantada.
- Que gracinha! - exclamou. - Tão pequenininhos! Eu era assim também,
Tio Jack?
- Sim, minha querida - respondeu o siamês, sorrindo. - Na verdade, você
ainda é pequena, só que não tanto quanto eles, que ainda nem falam. Mas, daqui
a pouco já estarão correndo pelo jardim atrás de você.
- Ôba! Aí sim terei com quem brincar direito! Não que eu desgoste de
você, Tio Jack, ou do Bichento, mas ele só quer dormir ou andar por aí, e você
só pensa em comer... Assim não dá para brincar!
- Pô, princesinha, assim cê detona a gente - resmungou Bichento. - Outro
dia o laranja aqui brincou um tempão de esconde-esconde com você...
- Me enrolou, isso sim! Na hora em que eu fui procurar você, não
conseguia achar de jeito nenhum, depois o descobri dormindo debaixo da sebe!
Por isso mordi sua orelha! E você brigou comigo!!
- Que absurdo, Bichento, enrolando a pobre criança! - rosnou Jack. - Da
próxima vez, filha, venha brincar comigo; eu não vou enrolar você, prometo.
- Ih, mas você é muito gordo, tio, não agüenta correr... - miou Bast,
desolada. Até que uma idéia cruzou sua cabecinha, fazendo-a perguntar de
sopetão: Tio Jack, de onde vêm os filhotes?
O siamês ficou desconcertado. Bichento ria, cara escondida na pata.
Freyr e Lucky sorriam um para o outro. Felicia lustrava as garras no pêlo,
fingindo distração.
- Anda, tio, me conta! Eles vêm de longe? Eu posso ir lá buscar uns para
brincar comigo? Posso?
A gatinha ficava cada vez mais curiosa e impaciente, e Jack cada vez
mais sem ação...
- É, parece que serei sempre eu a ajeitar as coisas por aqui, não? - ronronou
Felícia, piscando para Jack. - Querida, os filhotes vêm de um lugar complicado,
não dá para ir buscá-los desse jeito. Você ainda é muito pequena, mas um dia eu
lhe contarei tudo sobre os filhotes. Por enquanto, brinque com essas belas
crianças que aqui estão. Está bem assim?
- Hum, então tá... - concordou a felina, sem muita convicção, mas logo
se distraindo de novo com os gatinhos.
- Obrigado, Felicia. - murmurou Jack, sem graça, recebendo de volta um
sorriso maroto.
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Parte III
- Eu continuo votando por Loki. - Mina respondeu, afagando a cabeça de
um dos filhotes, enquanto Lady Bast brincava com eles por debaixo de seu braço
- Especialmente para esse senhor aqui. - ela mostrou com o queixo o gatinho que
tentava subir em sua mão.
- Temos que pensar também em quem vai ficar com os filhotes. - Meri
observou - Não se esqueçam da confusão que deu com a Lady Bast...
- Eu posso ficar com o Loki. - Mina sorriu, piscando o olho - Vovô vai
gostar de ter um filhote da Freyr com ele enquanto passo o ano na escola.
- E eu posso ficar com uma das enfants... - Selune acariciou a cabeça de
outro filhote, que ronronou suavemente - Chloe...
- Parece que só precisamos batizar mais dois, não? - Rav sorriu,
enquanto dava uma grande dentada no bolo de chocolate que Biba acabara de
cortar.
- Eu gostei de Selina, como a Meri - Biba respondeu.
- E Salem também é um ótimo nome... Tenho certeza que já ouvi ele em
algum lugar... - Rav completou.
- Acho que está decidido então. - Meri observou os filhotes fazerem
força para deixarem a caixa - Selina, Loki, Salem e Chloe. Só precisamos agora
encontrar alguém para adotar Selina e Salem!
- Que tal o Sat? - sugeriu Bianca. - Que eu me lembre ele não tem nenhum
animal de estimação.
Mina olhou para as meninas de modo interrogativo.
- Quem?
- Satanio Goddriac. É um amigo nosso da Sonserina. Famoso pelas peças
que ele prega na escola. - respondeu Meri.
Um leve reconhecimento se fez na mente da quartanista, ela se lembrava
vagamente de já ter ouvido o nome do rapaz associado a alguma confusão, mas
como ela nunca foi de prestar muita atenção nas vidas dos demais colegas, a
recordação era tênue e fugaz.
Percebendo o olhar um tanto perdido de Mina, Meridiana, tomando por uma
preocupação da menina mais nova pela segurança dos filhos, emendou.
- O Sat pode ser encrenqueiro, Mina, mas tem um bom coração. Duvido que
faria mal a algum dos gatinhos se déssemos um de presente para ele. Mas isso
não vai ser possível.
- Por que não, Meri? - perguntou Selune - Como a Biba disse, o Sat está
sem animal.
- Por um acaso vocês se esqueceram da cobra de estimação dele? A Faraó?
O Sat não troca aquela cobra por bicho nenhum do mundo, ainda mais que foi
presente do padrinho dele. - respondeu a ruiva.
- Eu pensei que Faraó já tinha morrido... - disse a francesinha.
- Morreu nada! Aquela cobra velha dorme quase que o dia inteiro no
caixote que fica debaixo da cama do Sat. Além disso - comentou Raven, com um
sorriso maroto brincando nos lábios. - Acho que ultimamente nosso amigo está
mais interessado no gênero vegetal que no animal, mais precisamente em cabeças
de beringelas...
- O que você anda sabendo, Srta. Sinclair, e está nos escondendo?
Raven olhou para cima, fazendo cara de inocente.
- Euzinha???? Naaaaaaaada, Meri. Além disso, eu prometi ao Sat sigilo
absoluto.
- Pois você é da Sonserina mesmo, não? Fica sabendo dos babados da
escola e sente um prazer sádico de esconder o ouro do resto de nós. - Meri
provocou, sorrindo.
- Falando nos últimos babados da escola,- começou Bianca, toda agitada.
- Vocês ficaram sabendo da última do Filch?
- Como assim, a última do Filch? Pelo que eu saiba ultimamente ele anda
apenas se "divertindo" com a quantidade imensurável de pântanos
portáteis que está pipocando pela escola desde que os Gêmeos Weasley fugiram...
- comentou Meridiana.
- Pois essa é velha, Meri! A novidade é que nosso digníssimo zelador
conseguiu finalmente realizar seu antigo sonho de pendurar um dos alunos da
escola pelos calcanhares naquelas correntes que ele tem na sala dele! - disse
Bianca, num misto de excitação e horror.
- E quem foi? - perguntou Selune curiosa.
- Um rapazinho da Corvinal que, recentemente, resolveu pregar uma peça,
junto com os amigos, em alguns sonserinos. O "gênio" atacou a
Parkinson e a Bulstrode e deixou as duas carequinhas. Como a PP é da Brigada
Inquisitorial, não deu em outra. Ela reconheceu o rapaz e o delatou para o
Filch sem nem pensar duas vezes.
- Mas, pegaram os outros que estavam com ele? - Raven quis saber.
- Não. Só sei que o Filch só não se divertiu mais porque o Prof.
Flitwick chegou irritado na sala do zelador. Dizem que nem dava para acreditar
que era o nosso professor de Feitiços. Quem viu disse que o Flitwick parecia
outra pessoa de tão irritado. Mas, por que você quer saber, Raven?
- Nada, só curiosidade. - mentiu a sonserina de cabelos negros. Ela
preferiu guardar para si a amargura de ter sido, injustamente, uma das vítimas
da peça desses corvinais. Tudo porque era membro da casa da serpente e
preconceituosamente fora incluída na lista de vítimas desses membros da casa de
Rowena Ravenclaw. - Sabe, - continuou ela - eu até concordo que devemos fazer
alguma coisa contra aqueles que apóiam a Sapa Velha, mas esse pessoal da
Corvinal foi meio burro. Primeiro porque se deixaram ser vistos por membros da
Brigada. Segundo porque não souberam escolher quem atacar ou como agir.
Qualquer resistência à Monstra é bem-vinda, mas eu prefiro as inteligentes.
Como aquele fanzine que anda circulando pela escola, O Olho do Grifo. Aquela
Domadora de Dragões é SENSACIONAL!!!!! Isso sim é que é espírito
revolucionário!
Mina, que até aquele momento, escutava, um tanto distraída, a conversa
das demais meninas, apertou com força a caneca transbordando de suco de abóbora
entre as mãos, levando-a até a altura do rosto, como se aquele pequeno
recipiente pudesse esconde-la das demais.
- E digo mais, - Raven falava cheia de entusiasmo - aquilo sim é que é
idéia genial. Divulgar a verdade vale mais que mil peças infantis. A pena
realmente é mais forte que a varinha. E mesmo achando que foi uma babaquice o
que o pessoal da Corvinal fez, o Filch abusou do poder dele. E eu ADORARIA ver
a Domadora de Dragões fazendo churrasquinho do nosso zelador nas páginas do
fanzine.
Meridiana olhou de lado, observando a reação de Mina, que ainda estava
tentando, em vão, se esconder atrás da caneca. Deu um leve cutucão na
quartanista, como se quisesse dizer Por que você não escreve? Os olhos
castanhos da escritora se encontraram com as orbes verdes de Meri, suplicantes,
quase implorando para não mete-la mais em nenhuma confusão. Meridiana sorriu
para tranqüilizar a amiga, meneando levemente a cabeça para incentivar a
menina. Aquilo foi o suficiente para que Mina mudasse de idéia. Bem, aquilo e o
entusiasmado discurso que Raven continuava a fazer sobre a necessidade de se
lutar contra a injustiça que reinava a escola. Um brilho diferente surgiu nas
faces de Mina. Ela abaixou a caneca, deixando aparecer um amplo sorriso.
Realmente estava na hora da Domadora de Dragões agir mais uma vez.
*********
Herman estava no salão comunal, revisando alguns conteúdos para os
N.O.M.s, sentado sozinho numa mesa afastada da lareira. De vez em quando,
soltava um resmungo baixinho, perguntando-se do que serviriam aquelas anotações
feitas na aula da Sapa Velha.
- Herman? - alguém chamou em voz baixa.
A primeira coisa que ele viu quando levantou os olhos dos livros foi um
par de mãos pequenas segurando um pergaminho amassado. Demorou um pouco até que
suas vistas se reacostumassem a alguma coisa que não fosse letras apertadas e
reconhecessem o rosto levemente corado de Mina.
- Boa noite, Mina. O que houve?
Ela respirou fundo e estendeu o pergaminho. Ele o desamassou com cuidado
e, à medida que lia, sentia seu sorriso crescer.
- E então? - ela perguntou quando ele voltou a olhar para ela.
- Eu pensei que você não ia querer voltar a escrever para mim...
- Digamos que eu escutei umas coisas interessantes hoje... - ela sorriu.
Ele assentiu.
- Gostaria de saber o que você escutou. Em todo caso, tenho sua
permissão para publicar esse aqui também?
Mina colocou a mão no queixo, encarando-o pensativamente.
- Hum... Não sei... Porque será que eu te mostrei?
Herman apenas sorriu em resposta.
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